A vida dá muitas voltas, é feita de ciclos, e no caso de José Neves e Cláudia Silva, ambos de 33 anos, não foi diferente. “As estações do ano são um ciclo, a época dos legumes e da fruta também, assim como o nosso percurso”, confirma José Neves. Em Lisboa, trabalhou durante cinco anos com Bertílio Gomes no restaurante Chapitô. “Aprendi muito em termos de cozinha, e ficámos bons amigos”, conta. Ainda passou pelo Pesca, de Diogo Noronha, até que, em 2017, decidiu deixar Portugal. “Sentia-me pouco desafiado e resolvi, com a Cláudia, procurar novas oportunidades em França.” Passaram por vários restaurantes de Paris, trocando depois a capital francesa pela região de Champagne, onde trabalharam no Le Garde Champêtre, um restaurante no meio do campo, com horta própria. Por lá nasceu a Alice, e, sem uma rede familiar próxima, sentiram que era tempo de voltar.
O Ciclo abriu no dia 2 de fevereiro, no Largo das Olarias, na Mouraria, após vários meses de obras, feitas com a ajuda de familiares e amigos. Tem apenas 20 lugares, mesas de madeira e paredes pintadas de bege, e serve uma ementa inspirada no receituário nacional e com uma boa dose de criatividade. Além de opções à la carte, há um menu de degustação (€55/6 momentos, sem bebidas).
José Neves diz gostar de trabalhar com peixes menos nobres, como o sarrajão e a anchova, mas também com conservas e fermentados, com os quais consegue “preservar os sabores da época e utilizar durante o ano”. A ementa está em constante mudança, para acompanhar o ciclo natural das coisas, privilegiando sempre os vegetais. “Dos nove pratos da ementa, cinco têm como base os legumes”, contabiliza.
À mesa, somos surpreendidos com diferentes paladares, entre eles o sarrajão (servido cru), funcho e gomos de laranja dalmau (€10), de textura carnuda e doce. A couve-flor na brasa, molho de frango assado e pele de galinha crocante (€9) é um dos mais criativos da carta, e o cachaço de porco preto da Quinta da Laborela (produtor de porco alentejano, alimentado a bolota), servido com puré de feijão e acelgas, ficará na memória. Também a carta de bebidas foi escolhida a dedo, apresentando vinhos naturais e biodinâmicos de pequenos produtores franceses e portugueses e algumas opções de champanhe.
Uma lição que o casal trouxe de França é que uma refeição pode terminar com uma seleção de queijos. No nosso caso, chegaram à mesa três variedades da Casa Pratas, produtor ribatejano de queijo de cabra. Um remate perfeito.
Ciclo > Lg. das Olarias, 42, Lisboa > T. 96 369 1234 > qui-sáb 19h-24h, dom 12h30-15h