Não percebemos imediatamente o que nos quis dizer Bernardo Ventura, 29 anos, quando explicou que no seu restaurante “o que está lá fora não se apaga só porque entramos cá dentro”. Até que começámos a reparar nos pormenores e nos elementos que fazem essa ligação – desde logo, as enormes janelas a toda a volta que nunca nos deixam separar do rio.
No Rio de Prata, há também uma enorme escultura de aço, a pender do teto, e na qual se repare mal se passa a porta de entrada. Se lá fora o que manda é o rio lisboeta, quase mar, aqui dentro continuamos a navegar por esta serpente prateada que percorre grande parte de uma das salas e que leva a assinatura de Valentim Quaresma (são quase 100 lugares no total, contando com o balcão e a esplanada que aguarda por dias mais serenos para abrir).
A cozinha é daquelas que não esconde segredos. Vemos a chefe Carla Sousa a dar forma aos seus pitéus, com alguns laivos de influência cabo-verdiana que lhe chega pelos pais. A irmã Ângela também está entre os tachos, embora se dedique à parte mais gulosa da ementa – uma aposta clara deste restaurante (há oito opções, todas elas originais).
Paremos de falar na decoração em tons de castanho, muito marcada pela presença da madeira, porque já chegaram os ovos rotos (€9), são de batata-doce e isso agrada-nos bastante. Também está na mesa couve-flor assada em lenha com tomate concassé e couve-romanesca (€6) e umas originais chamuças de pato e laranja caramelizada (€9), só para darmos alguns exemplos de entradas. Na verdade, quem gosta de partilhar pode ficar por este capítulo, ainda que as dúvidas fiquem a pairar sobre uns croquetes de alheira, uma tempura de legumes da horta ou um carpaccio de novilho.
Aqui para nós, que ninguém nos lê, seria uma pena que a refeição não avançasse ementa adentro – isso significaria não provar o prego de bacalhau em brioche caseiro (€16), as bochechas com puré de castanhas e maçã (€17,5), o atum braseado com xerém de berbigão (€19) ou o entrecosto caramelizado com chips de mandioca finos e estaladiços (€18,5), mesmo a pedir que se abuse deles. Nem temos hipóteses de ficar a remoer no pecado da gula, pois podemos sempre expiá-lo numa caminhada pelos jardins junto ao rio.
Rio de Prata > Rua F aos Jardins Braço de Prata, lote 8, bloco D, loja 6, Lisboa > T. 21 868 1080 > qua-qui 12h30-15h, 18h30-23h, sex 12h30-15h, 18h30-24h, sáb 12h30-24h, dom 12h30-17h (regime de almoço prolongado)