De António Maçanita sabemos que faz muitos vinhos, em várias regiões do país, sempre com qualidade. Assina uns como produtor e enólogo, outros só na segunda qualidade, todos muito bem feitos. Há casos em que o nome da irmã, Joana Maçanita, também enóloga, surge ao lado do seu, e daí que se apresentem como “irmãos e enólogos” ou que falem de “vinhos Maçanita”.
Diferente é a parceria que António fez com o seu amigo madeirense Nuno Faria, a instâncias deste, para criar vinhos na ilha de Porto Santo. Sabia-se que nesta ilha ainda havia vinhas antigas e castas praticamente desconhecidas, como Listrão e Caracol, mas nada constava sobre vinhos. António e Nuno fundaram a Companhia de Vinhos dos Profetas e dos Villões (a lembrar que os madeirenses chamam “profetas” aos porto-santenses e são por estes apelidados “villões”) e esta apresentou, há pouco, três vinhos brancos surpreendentes, com as marcas Listrão dos Profetas, Listrão dos Profetas Vinha da Corda e Caracol dos Profetas, seguida da designação Vinho do P. Santo. Os Listrão, ambos da colheita de 2020, têm produções diminutas (1497 e 567 garrafas, respetivamente), preços superiores, que rondam 50 euros, e mais sofisticação. O Caracol é de 2021, atinge a 4267 garrafas, mostra-se equilibrado em tudo, da boca à bolsa, e está cheio de interesse.
Do Alentejo chegam dois tintos de produtores e sub-regiões diferentes, mas tão recomendáveis um como o outro, por distintas razões, obviamente: Esporão Reserva Alentejo Tinto 2019 e Mariana Regional Alentejano Tinto 2020. O Esporão é um clássico, que vem de 1985 com a honra de ter sido o primeiro da herdade do mesmo nome e o mérito de manter até hoje um perfil harmonioso, rico e consistente. Se fidelizou muitos consumidores, deve-o à qualidade da matéria-prima, com uvas de vinhas certificadas em agricultura biológica, e à vinificação esmerada, que termina com estágios em madeira e em garrafa.
Mariana é um vinho jovem, da Herdade do Rocim, evocativo da história de amor de soror Mariana Alcoforado por um oficial francês, que acaba mal. Passou-se em Beja, cujo castelo se avista das vinhas do Rocim. No caso do vinho, a história tem um fim feliz: a gama de vinhos Mariana – branco, tinto e rosé (este já oportunamente referido) – é a mais acessível da Herdade do Rocim, com juventude e frescura cativantes.
Caracol dos Profetas Vinho do P. Santo Madeirense (Branco) 2021
Exclusivamente da casta Caracol, de vinhas de condução rasteira tradicional. Feita a vindima, há que levar as uvas para ilha da Madeira, onde são vinificadas, por não ser legal fazê-lo em Porto Santo. O vinho exibe cor amarela pálida, aroma intenso a pomar de citrinos e a mar, paladar cheio de elegância e frescura. Requer pratos leves e frescos. €19,50
Esporão Reserva Alentejo (Tinto) 2019
Feito com uvas das castas Aragonez, Trincadeira, Syrah, Touriga-Nacional, Touriga-Franca, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet, vinificadas em separado. Estagia 12 meses em barricas e pelo menos mais oito meses em garrafa. A cor é rubi profunda, o aroma complexo com notas de frutos pretos e de especiarias, o paladar intenso, cheio de sabor e de harmonia, o final muito persistente. €20
Mariana Regional Alentejano (Tinto) 2020
Lote das castas Touriga-Nacional, Aragonez, Alicante Bouschet e Trincadeira, com fermentação em inox e estágio de seis meses em barricas de carvalho francês. Tem cor rubi profunda, aroma limpo e jovem a frutos vermelhos, paladar com volume, boa fruta, taninos macios e grande frescura. Para a mesa, sem quaisquer dúvidas. €7,45