Causaram perplexidade as conclusões de um estudo da Universidade de Groningen, na Holanda, sobre alguns vinhos do Porto, por revelarem que nem todos tinham a idade indicada no respetivo rótulo. O Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) e a Associação de Empresas do Vinho do Porto vieram logo refutar tais conclusões e garantir a qualidade e genuinidade dos seus vinhos. Mas ficaram dúvidas no ar. Os vinhos do Porto com indicação de idade – 10, 20, 30 e 40 anos – são vinhos de lote com diferentes idades, cuja média corresponde à indicada nos respetivos rótulos. Assim se diz, pelo menos. Mas o critério legalmente estabelecido para a classificação desses vinhos por parte da Câmara de Provadores do IVDP, que é a entidade competente, atende a outros fatores: cada categoria de vinhos deverá obedecer a um estilo que o setor reconhece e que a história regista, como o seu perfil próprio e as suas características de cor, de aroma e de sabor. Por exemplo, um Porto 10 Anos tem de ter o “estilo de 10 Anos”, que conta mais do que a idade dos vinhos que entram no respetivo lote. Não sendo modelo de objetividade, o critério pode ser questionado, mas não permite falar de falsificação e muito menos duvidar da qualidade e autenticidade dos vinhos do Porto com indicação de idade. Clarificação de conceitos é o que faz falta.
Portugal produz grandes vinhos de todos os tipos e estilos, de norte a sul e nas ilhas. Alguns são inigualáveis, como os vinhos do Porto, dos quais damos um exemplo feliz: Churchill’s Quinta da Gricha Vintage 2019. Os vinhos tranquilos (vinhos de mesa, no falar do passado) têm menor projeção, mas não lhes falta caráter e o seu prestígio não para de crescer, incluindo os mais acessíveis, destinados ao dia a dia, como os dois casos exemplares que apresentamos: Quinta de Pancas Reserva Tinto 2017 e Contacto Alvarinho Branco 2020.
Churchill’s Quinta da Gricha Vintage (Porto) 2019
Elaborado com uvas de vinhas velhas com as castas Touriga-Nacional, Touriga-Franca, Tinta-Roriz, Tinto-Cão, Tinta-Barroca, em partes iguais. Pisa a pé e longa fermentação, visando “vinhos mais naturais e um estilo mais seco”. Apresenta cor preta e opaca, aroma concentrado e complexo com notas de frutos pretos e de especiarias sobre fundo mineral, paladar intenso e rico com taninos muito finos e excelente acidez num todo de harmonia, elegância e sofisticação. €65
Quinta de Pancas Reserva Regional Lisboa (Tinto) 2017
Elaborado com uvas das castas Cabernet Sauvignon (50%), Alicante Bouschet, (30%) e Syrah (20%). Fermentação em inox e estágio em barrica durante um ano. A cor é vermelha profunda, o aroma complexo a frutos pretos maduros com notas de especiarias, o paladar cheio com taninos e acidez em boa relação de equilíbrio, final elegante e longo. €12,90
Contacto Alvarinho Monção e Melgaço (Branco) 2020
Exclusivamente de uvas da casta Alvarinho com fermentação longa a baixa temperatura e estágio mínimo de três meses sobre borras finas com “bâtonnage” regular. Tem cor amarela-citrina, aroma aliciante, floral e frutado com sugestivo toque mineral, paladar intenso e bem estruturado com a fruta e a acidez em harmonia e o final cheio de frescura e de sabor. €9,99