Entramos no Sofitel, na Avenida da Liberdade, com a intenção de jantar no Matiz, mas aproveitamos a deixa para espreitar a renovação que resultou das obras de quase um ano a que este hotel de cinco estrelas se sujeitou. Podemos atestar que não ficou quase nada na mesma: o hall está mais amplo, colorido e luminoso, há muita arte pelas paredes e um jardim vertical demasiado escondido num saguão. O restaurante que antes se chamava Ad Lib, dá pelo nome de Matiz e está aberto para a entrada, tendo ligação direta ao bar. É a montra das sobremesas, da autoria do chefe Daniel Schlaipfer, que torna essa passagem ainda mais fluída.
Na sala de refeições, as mudanças também foram profundas, de tal modo que o espaço se tornou irreconhecível por quem alguma vez tenha pisado este chão (atualmente a imitar a calçada portuguesa, numa versão mais estilizada). E as montras, pejadas de peças da Vista Alegre, dão muita cor ao novo restaurante.
O chefe alemão, radicado em Portugal desde 2003 e à frente deste projeto há 11 anos, não gosta de menus degustação. Mas a experiência que nos proporciona, para que provemos um bocadinho de quase tudo, faz as vezes disso mesmo. Começamos por uma deliciosa uva de foie gras (€14), pelo menos para quem é fã deste patê de fígado de ganso. Registe-se que este é o único momento em que a inspiração francesa se deixa notar. Tudo o resto, passou a ter origem portuguesa, desde o atum do tártaro (€16), que vem dos Açores, ao robalo que chega do porto de Peniche (€24). É, aliás, este o resultado da pesquisa a que o chefe se dedicou, aproveitando o recolhimento forçado, primeiro pelas obras, depois pela pandemia.
O jantar segue, e muito bem, com um belíssimo ravioli negro de lagosta, regado por um bisque de frutos do mar da costa portuguesa (€12). Pelo meio, provámos outra entrada de tentáculos de polvo anão, servido num casamento perfeito com puré de batata doce (€10). Guardamos espaço para a posta mirandesa, servida com polvo, num original terra e mar, porque vimos o certificado de origem da carne que vem de Trás-os-Montes através de uma cooperativa local. Antes, chegaram à mesa umas aromáticas costeletas de borrego, num pequenino fogareiro, ainda a grelhar em carvão com lavanda seca que contagiou, por instantes, o ambiente com este perfume. Mais tarde saberíamos que a erva havia descido do quarto andar do prédio do hotel, aonde existem vários vasos com este tipo de plantas, apenas para fazerem frente às receitas do chefe.
A refeição remata com uma sobremesa de chocolate de São Tomé (€12), outra justificadíssima exceção aos produtos nacionais, com gelado de framboesa, felizmente não muito doce. “Optei por largar a confusão que era a antiga ementa para me direcionar para uma linha mais portuguesa”, conclui o chefe, enquanto desanuvia da máscara, na nova esplanada em plena Avenida da Liberdade, mesmo a pedir noites quentes de verão.
Matiz > Hotel Sofitel > Av. de Liberdade, 127, Lisboa > T. 21 322 8350 > seg-dom 12h30-15h, 19h30-22h30