“Há 40 anos fermentei o primeiro vinho tinto de Baga (casta-rainha da Bairrada, tinta) com os processos da época: com engaço, em lagares e cubas de cimento com remontagem com bomba, na adega da minha sogra. Parte da vindima aconteceu em outubro, porque tinha tido dificuldade em angariar vindimadores”, recorda Luís Pato. “O ano foi seco, sem chuva durante a vindima, o que proporcionou uma maturação plena das uvas, mesmo com uma produção generosa. Controlo de temperatura? Não era hábito! Esse vinho permaneceu em cuba de cimento durante 5 anos, como se fazia na Bairrada, ao tempo.” Levou-o, em setembro de 1984, a Londres “aos exigentes críticos ingleses” e nada voltaria a ser como dantes. “Para minha surpresa, o vinho que eu tirara da cuba para enviar de amostra à prova, foi considerado de qualidade excecional. Nem tinha ainda qualquer rótulo. Essa prova desenhou o meu caminho no mundo do vinho.”
Variações sobre a casta Baga
A amostra que Luis Pato levou a Londres, integrada numa comissão da Estação Vinícola da Bairrada, não tinha rótulo e não tinha marca, porque ele solicitara autorização à extinta Junta Nacional do Vinho, para que fosseÓis do Paço e viu a sua pretensão recusada. Em seu lugar, e em jeito de improviso, inscreveu o seu nome: Luis Pato. Filho e genro de vitivinicultores da Bairrada, tinha optado pela engenharia química. Ao mudar o rumo da sua vida, revelou uma capacidade invulgar tanto para criar vinhos como para os promover dentro e fora do País, apesar da sua pequena dimensão.
“Em 1985, iniciei o desengace dos vinhos da casta Baga, por forma a torná-los menos rústicos. Em 1988, para distinguir os vinhos de Baga plantada em solo argilo-calcário da sua mistura com vinho de solos arenosos – por sugestão de José António Salvador (jornalista e nome maior da crítica de vinhos na Imprensa portuguesa, assinou, ao longo de vários anos, uma coluna semanal da revista VISÃO] que, provando-o da cuba, me disse que deveria singularizá-lo – chamei-lhe vinho de Vinhas Velhas, por ser de uvas de vinhas quase centenárias, à época, aparecendo assim a primeira referência no País à ligação entre idade da vinha e qualidade. Em 1995, elaborei dois vinhos de vinhas distintas, mas com o mesmo solo, a mesma casta e a mesma vinificação, só mudando o local, criando dois vinhos distintos: Vinha Pan e Vinha Barrosa. Nesse mesmo ano, vinifiquei o primeiro vinho de Baga de solo arenoso, plantado em Pé Franco (videiras plantadas diretamente no chão, sem porta-enxerto, como antes da filoxera): o Quinta do Ribeirinho Baga em Pé Franco.
Em 1999, por desacordo com as autoridades nacionais, mostrei o meu cartão amarelo e desisti de certificar os meus vinhos como Bairrada, utilizando a indicação de Região das Beiras. Em 2008, após comprar a última parcela que não nos pertencia na Vinha Barrosa (a nossa vinha centenária), passei a ser o único proprietário de vinhas naquele local e acrescentei o designativo Monopólio para indicar isso mesmo.”

Da Bairrada para o mundo
Além de criar vinhos com personalidade bem definida, Luis Pato também soube dá-los a conhecer, dentro e fora do País, com métodos inovadores que exigiram o seu envolvimento pessoal. Continua a fazê-lo e diz: “Os nossos vinhos eram vendidos sobretudo por terem preço baixo em relação à sua qualidade intrínseca. Certa vez, numa prova do International Wine Challenge, de Londres, em 1991, um dos parceiros de mesa disse-me que os meus vinhos eram caros; respondi que não, bastando compará-los com os equivalentes franceses. Admitiu que talvez fosse verdade, mas logo acrescentou que era possível comprar em Portugal bem mais barato! Houve quem me criticasse por privilegiar o mercado externo, mas o meu maior mercado foi sempre o português. Tentei criar imagem lá fora, porque aí é mais difícil; cá, dado o tamanho do País, é bem mais simples…”
Inovação é uma das marcas do caminho que Luis Pato imprime nos seus vinhos e a internacionalização serviu-lhe de incentivo, conforme reconhece: “Ao longo dos anos, foi minha intenção manter a tradição, sobretudo da casta Baga, mas adaptando os nossos vinhos ao gosto do mercado mundial. Para isso, tive de suavizar os seus taninos com processos naturais.” À pergunta sobre se desenha os vinhos em função do mercado a que os destina, responde sem rodeios: “Embora tenha vinhos diferentes para mercados diferentes, eles não foram feitos de propósito. Com as viagens pelo mundo vou ‘descobrindo’ qual dos vinhos se adapta melhor às culinárias que vou encontrando… Não é o caso de os fazer a pensar no mercado de cada país, mas o inverso: dos vinhos que tenho, vou tentar encontrar o que se adapta melhor aos diferentes sabores.”

Luis Pato Espumante Bairrada Vinha Pan 2017
Espumante branco da casta tinta Baga, de uma única vinha, “o primeiro em Portugal sem qualquer adição de sulfuroso” e sem dosagem nem colagem. Cor de pérola, aromas fumados, paladar rico e fresco a lembrar frutos secos. Ideal para acompanhar mariscos, desde o popular berbigão até à requintada ostra, comida asiática ou, simplesmente, uma boa conversa. €20

Vinho Branco Vinha Formal 2017
Elaborado com uvas da casta Bical e fermentado em pipas de madeira de castanho, tem cor amarela brilhante, aroma intenso e muito fino a frutos de caroço (ameixa branca, pera, alperce), com apontamentos de amêndoa torrada e baunilha, paladar cremoso, fumado, mineral, com corpo e estrutura elegante. Perfeito para acompanhar pratos da cozinha oriental, peixes, carnes brancas e bons queijos, como Serra ou Serpa. €15

Luis Pato Vinha Barrosa Monopólio Vinha Velha 2014
99% de uvas tintas Baga e 1% de uvas brancas Maria Gomes, Bical e Dona Branca, de uma vinha centenária (pós-filoxera, por volta do ano 1900). Fermentou sem engaço e estagiou dois anos em pipas de carvalho francês. Aroma elegante e complexo com notas de ameixa preta, framboesa, menta e um toque de baunilha, paladar intenso e requintado. Para acompanhar assados e caça até daqui a 25 a 30 anos! €30