Vigora um novo conceito na Casa de Chá da Boa Nova, que se revela logo no ambiente da sala e depois na apresentação dos pratos, mas que tem o seu ponto fundamental num menu de degustação exclusivamente vegetariano. A carta, de resto, divide-se em dois menus, um vegetariano e outro não, ambos sob o lema “Por mares nunca dantes navegados”, tomado por empréstimo ao Canto I d’Os Lusíadas. Têm estrutura idêntica: 21 ou 12 pratos – ou momentos ou “cantos”, como são aqui designados. Além de ser novidade na Casa de Chá da Boa Nova, um menu vegetariano com tais características é inédito em Portugal nos restaurantes de alta cozinha. Promete entusiasmar muitos clientes e atrair outros – que vai surpreender, ninguém duvide disso.
As quantidades são adequadas ao número de iguarias a degustar, deixando o cliente satisfeito com a refeição. Por exemplo: o Canto IV do menu corrente é amêijoa à Bulhão Pato, que surge numa concha grande com miolo do bivalve e creme Bulhão Pato, deliciosamente refrescado com lima, para levar de uma vez à boca; o lagostim com sopa coreana tem duas partes, uma crocante e outra com um molho asiático, que se harmonizam; a raia com língua de vitela e texturas de topinambur desafia a imaginação, e a feijoada de tripas contribui, na mesma medida, para manter a atenção desperta e o paladar excitado com o apuro e a subtileza dos sabores. Este menu remete para o mar, com peixes e mariscos frescos da costa, e relega a carne para complemento.
O menu vegetariano também apresenta criações imaginativas e saborosas – cada prato com o seu molho e o seu equilíbrio exato, embora não tenha proteína: abóbora com frutos secos, cozinhada no carvão do Josper e empratada na sala com os três potinhos de sementes que a acompanham; milho com abacate, que remete para o guacamole mexicano; tofu com alho-francês, bonito, com o carvão a arder que vem à mesa, e gostoso com o molho asiático; beterraba que, na verdade, são três e todas diferentes, mais a caixa de sumo de beterraba e framboesa e o molho com rosa vermelha, num conjunto surpreendente. É preciso ver, saborear, admirar. O lugar é privilegiado, como se sabe, e a cozinha do chefe Rui Paula está cada vez mais criativa e depurada. Garrafeira à altura, e o serviço também.