Na Arcádia, o entra e sai é constante. Nas épocas festivas, acentua-se. O cheirinho doce sente-se junto número 63, na Rua do Almada, no Porto, onde, desde 1945, está instalada a fábrica. É um lugar de memórias para muitos, onde apetece voltar. Para conferir sabores de infância ou levar as últimas tentações, de açúcar ou chocolate, para casa. Como a Páscoa pede amêndoas, são elas que sobressaem na loja em pequenas mesas de madeira, entre papéis coloridos e desenhos vintage, acomodadas em embalagens, frascos, cestos e caixas de madeira. Em segundo plano está o chocolate, apresentado em forma de ovo e coelhos de diversos tamanhos.
O cenário repete-se a cada ano, cumprindo a tradição, mas sempre com novidades. Se, ao longo dos anos, se questionou sobre o que está para lá da porta de madeira, no prolongamento da loja, não perca a oportunidade. A ideia é satisfazer “a curiosidade de quem nos visita”, conta Margarida Bastos, administradora da Arcádia. Atualmente utilizada para provas de degustação de bombons ou amêndoas e Vinho do Porto, a sala vai estar uma vez mais aberta até à à próxima quarta-feira, 28, para mostrar aos clientes como se borda com açúcar as célebres amêndoas de licor. “Foi dos primeiros produtos que o meu avô [Manuel Pereira Bastos, o fundador] trouxe de Paris, há cerca de 80 anos”, recorda.
Feitas de dentro para fora, as drageias Bonjour, como também são conhecidas, ganham forma através de camadas sucessivas de açúcar. O ritual prossegue com o alinhar das amêndoas em tabuleiros retangulares, às quais se conferem formas tão diversas como bebés, de base azul ou cor-de-rosa, cantis, legumes, frutos e flores, num total de 30 referências. “É tudo artesanal, o que obriga a trabalhar todo o ano para vender em apenas 15 dias”, sublinha Margarida Bastos. Com mão firme, a segurar o cartucho de papel com boquilha, Ana Paula, 47 anos, vai desenhando flores e folhas, com grande precisão. “É preciso paciência e gosto”, diz.
Difícil mesmo é fazer as orelhas de pequenos leitões e as asas dos periquitos, ouve-se ao lado. Ludovina Barros, 59 anos, por estes dias ocupada com o embalamento de ovos em papier-mâché, gosta mesmo “é de pintar malmequeres”. Cada referência passa por diferentes etapas, no caso dos bebés são cinco, demorando em média cerca de dois meses a ficarem prontas. Sendo este um processo artesanal, são necessários anos para acertar a mão e manusear com perícia as formas destas pequenas obras de arte, em açúcar, pintadas e decoradas à mão. A produção, a rondar as 20 toneladas por ano, exige muitos meses de trabalho para responder às encomendas. “É um processo muito demorado e, por isso, já estamos a preparar as amêndoas para a Páscoa de 2017”, adianta Margarida Bastos.
E, como nem só de visitas se faz a Páscoa, este ano, na Arcádia, às drageias de licor juntam-se as rugosas amêndoas torradas cobertas de cacau, açúcar ou canela. Tudo feito em tachos de cobre, sempre mexido à mão, ali mesmo, numa das salas da fábrica de chocolate. É de comer, da primeira à última amêndoa, sem culpa.
Arcádia > R. do Almada, 63, Porto > T. 22 200 1518 > seg-sex 9h30-19h, sáb 9h30-18h
Visita à sala de provas durante a Páscoa > 26-28 mar, seg-qua 9h30-18h