Não venho hoje propor-vos o debate histórico sobre a origem dos espumantes portugueses nos finais do século XIX e muito menos quem os fez primeiro: Raposeira/Lamego em 1898? Real Companhia do Norte em 1890? Ou Tavares da Silva, o primeiro diretor da Escola Prática de Viticultura da Bairrada a partir de 1891? Importa para o presente século XXI não ignorar a história, para melhor entendermos o presente. A Raposeira está hoje em fase de ascensão de qualidade. A Real Companhia do Norte (Real Companhia Velha) retomou a produção de espumantes.
A Bairrada com o seu património histórico referente à produção de espumantes poderia ser a região rainha deste tipo de vinhos… Escrevo, podia ser. Mas para isso ser claro e inequívoco, importaria que as suas empresas e produtores independentes tomassem alguns procedimentos vitícolas e enológicos vitais como regras normais: vindimar com a maturação das uvas adequada para vinificar o vinho base. Não se trata de aproveitar os restos de vinhos não vendidos no ano, para aproveitá-lo através de uma segunda fermentação em garrafa; mas sim vinificar um vinho base para “espumantizar” em cave. Dois espumantes bairradinos me trouxeram a sensação de plenitude que a região nos pode proporcionar. Aqui se registam:
Encontro Espumante Spécial Cuvée Bairrada 2010 ***** – €23
A casta branca Arinto associada à tinta Baga vinificada em branco constituem o lote do vinho base deste espumante de qualidade invulgar. O dégorgement (libertação do depósito criado pela segunda fermentação em garrafa) foi efetuado em 2013, o que significa que esteve três anos em cave. Durante este período o espumante afinou, conferindo-lhe espuma fina, sedosa e constante. Com os seus 12,5 vol. álcool mantém uma boa frescura de sabores intensos, em que a casta Baga desempenha papel central (apesar de apenas entrar com 15% no lote). Rico nos aromas frutados. Rico na sua harmonia total. Apenas 3200 garrafas. Apenas a Bairrada no seu melhor.
Encontro Bairrada Espumante Bruto 2010 ****/***** – €6
O trio de castas brancas Arinto, Bical e Maria Gomes deram corpo e alma ao vinho base, que deu origem a este espumante bruto. Frutado nos aromas e nos sabores, bolha fina e persistente, dá prazer quando o apreciamos serenamente no copo. 12,5% vol. álcool.