Puxar o tema da diabetes para as Conversas Saúde é quase uma obrigação. O dia mundial, assinalado a 14 deste mês, só serviu de gancho para desafiarmos o médico João Jácome de Castro, presidente da sociedade portuguesa de endocrinologia, diabetes e metabolismo, a fazer um ponto de situação da doença. Mas a real razão reside nos portugueses afetados e, mais ainda, nos afetados que desconhecem a sua condição.
O especialista começa por afiançar que entre 10 a 14% da população adulta tem diabetes (só 5% diz respeito ao tipo 1, uma doença autoimune). Desses cerca de um milhão, há 30% que vive como se não sofresse de esse mal, por culpa da ausência de diagnóstico. Estes números colocam-nos na cauda da Europa.
É aqui que é urgente atuar, “para evitar que surjam complicações à distância”. Para isso, o especialista pede programas de rastreio alargados que apanhem estas pessoas a tempo, especialmente em situações de pré-diabetes. “Se não fizermos nada, cerca de metade destes casos vão evoluir para diabetes”, nota o endocrinologista.
E depois há os grupos em que se deve mesmo ir pesquisar, como são as mulheres que tiveram diabetes gestacional, as pessoas com mais de 40 anos com excesso de peso, quem tem história familiar ou fatores de risco, como hipertensão ou colesterol elevado.
Se o excesso de peso, a obesidade e o sedentarismo são fatores que podem levar à diabetes, é legítimo perguntar se com a mudança de estilo de vida se conseguirá reverter a doença, sem recurso à medicação. João Jácome de Castro responde que “sim”, com perdas significativas de peso, mas a resposta carece de muito enquadramento, porque nem todos os casos terão esse desfecho e a intervenção tem de ocorrer mesmo no início da doença. Mas a verdade é que as terapêuticas avançaram muito nestes últimos anos e por isso mesmo não devem ser descartadas sem justificação.
Caso não seja devidamente tratada, a diabetes pode gerar complicações, já se disse. As mais preocupantes são as doenças cardiovasculares (enfarte do miocárdio, angina de peito, insuficiência cardíaca, por exemplo), doenças cerebrovasculares (principalmente avc, que em Portugal é a primeira causa de morte), insuficiência renal, cegueira, a amputação (a grande maioria das amputações dos membros inferiores são culpa desta doenças). Perante esta panóplia de possível desfechos, o melhor é mesmo prevenir.