Um estudo da Queensland Health, a agência governamental australiana responsável pela Saúde daquele estado, concluiu que os sintomas associados à Covid longa podem não ser, afinal, diferentes de outras síndromes pós-virais, como as que podem ocorrer depois de se ter gripe. O principal autor da investigação, John Gerrard, que é também o diretor de Saúde de Queensland, considera mesmo que é altura de deixar de usar o termo Covid longa porque a designação tem implícito algo único sobre os sintomas da infeção pelo SARS-CoV-2 que se prolongam no tempo, o que, acredita, à luz dos novos dados, não tem razão de ser.
O estudo debruçou-se sobre mais de 5 mil adultos que, entre maio e junho de 2022, tiveram sintomas de doença respiratória – quase 2400 tinham testado positivo para a Covid e cerca de 1000 para o Influenza, enquanto os restantes tiveram testes negativos. Um ano depois dos testes PCR, foi pedido aos participantes que relatassem os sintomas que ainda mantinham, através de um questionário online – 16% do total reportaram sintomas e 3,6% queixaram-se de efeitos moderados a graves que afetavam mesmo as suas atividades diárias, sem diferenças significativas entre os tinham tido Covid e o que não.
Mesmo no caso de sintomas normalmente associados à Covid longa, como a fadiga, o nevoeiro cerebral e alterações nos sentidos do olfato e do paladar, a percentagem dos que relataram pelo menos um deles foi semelhante entre os que tinham testado positivo e negativo para o SARS-CoV-2.
Para Gerrard, a Covid longa pareceu ser uma doença distinta e grave, mas devido ao elevado número de pessoas infetadas com Covid-19 num curto espaço de tempo e não propriamente graças à seriedade dos sintomas.
“Quero deixar claro que os sintomas que alguns doentes descrevem depois de ter Covid-19 são reais e acreditamos que são reais. O que estamos a dizer é que a incidência destes sintomas não é maior com a Covid-19 do que com outros vírus respiratórios”, sublinhou esta sexta-feira, em conferência de imprensa.
Os resultados do estudo foram obtidos por associação e não representam a prevalência, alertam, no entanto, os responsáveis, lembrando também que 90% da população do estado de Queensland estava vacinada quando apareceu a variante Ómicron, o que pode explicar a pouca gravidade da Covid Longa nestes casos.
Estas conclusões vão ser apresentadas no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doença Infecciosas, que vai decorrer em Barcelona.