Se não costuma ter cuidados extra com os seus lábios durante o inverno, este artigo é para si. Isto porque a pele desta parte do corpo é muito mais fina e delicada relativamente a outras áreas, o que a torna mais sensível e, consequentemente, mais seca – aquilo a que chamamos, normalmente, cieiro.
“No inverno, a pele dos lábios fica exposta a vários agentes agressivos como o frio, o vento e variações de temperatura, o que leva a que ocorram alterações na barreira protetora cutânea e os lábios fiquem mais secos e gretados”, explica à VISÃO Joana Dias Coelho, dermatologista no Hospital da Luz, em Lisboa, acrescentando que “muitas vezes, isto leva-nos a humedecer os lábios com saliva ou tirar as peles secas, agravando o quadro clínico”.
Além disso, “ao contrário da pele do rosto, os lábios são pouco lubrificados pelas secreções das glândulas sebáceas, que se encontram apenas ao redor do lábio”, afirma, por seu lado, Marta Ferreira, farmacêutica e doutoranda em Ciências Farmacêuticas especializada em Cosmetologia. “Mas os lábios também podem ficar mais secos quando os lambemos, expondo a pele à saliva, após a exposição solar, devido a medicamentos (ex: isotretinoína para acne, tratamentos oncológicos) ou até quando retiramos um batom com um desmaquilhante”, esclarece.
Em todos os casos, diz Marta Ferreira, é fundamental a utilização de protetores labiais “tanto para a prevenção da secura labial, como para acelerar a regeneração da pele”.
Os protetores labiais podem piorar a secura dos lábios?
Em entrevista ao New York Times, a dermatologista norte-americana Heather Rogers referiu que “alguns protetores labiais podem exacerbar a irritação e a secura, levando à necessidade de mais”. Isto é possível? “Se houver uma alergia a algum composto do creme labial, [os protetores labiais] podem agravar a irritação, mas isto é pouco provável e tem de ser identificado”, defende, por seu lado, Joana Dias Coelho. Também Marta Ferreira concorda que “é improvável que isso aconteça”, embora seja “uma perceção relativamente comum”.
“Podem acontecer pelo menos três coisas: ou o produto não tem a melhor qualidade, ou os lábios estão demasiado secos para que este tenha efeito sem que haja uma esfoliação prévia, ou o produto labial contém ingredientes que promovem a descamação dos lábios, causando a sensação de que a secura está a piorar”, refere a farmacêutica.
COMO É QUE OS PROTETORES LABIAIS PODEM PIORAR A SECURA DOS LÁBIOS, SEGUNDO MARTA FERREIRA
As gorduras que constituem o batom podem aderir mais ou menos aos lábios, permanecendo na pele por mais ou menos tempo. Quando a adesão não é duradoura, e o produto sai rapidamente (ao falarmos e comermos, por exemplo), é natural que os lábios retornem rapidamente ao seu estado inicial. E, neste caso, o contraste entre a sensação de ter os lábios hidratados, após a aplicação do batom, e perder esse conforto, à medida que este vai saindo, pode levar-nos a sentir que os lábios ficaram ainda mais secos. Acontece apenas que perdemos a camada protetora dos lábios, mas as condições atmosféricas mantiveram-se, e a secura voltou a agravar. Além disso, quando a pele da superfície dos lábios se encontra muito seca, as suas células ficam muito compactadas e são menos capazes de serem “envolvidas” pelos lípidos do batom, ou de reter a água da circulação sanguínea. Nesse caso, o batom não será capaz de reverter a secura, e os lábios devem ser esfoliados de forma suave para que a pele se possa renovar. Também existem batons que contêm ingredientes como o ácido salicílico, mandélico e outros compostos de ação esfoliante. Estes podem ser muito úteis quando os lábios se encontram muito secos, acelerando a descamação de células mortas, mas algumas pessoas sentem que esta descamação poderá ser excessiva. Por outro lado, existem batons que contêm ingredientes refrescantes, com o objetivo de aliviar o desconforto sentido durante o cieiro, ou até de tornar os lábios mais carnudos, já que aumentam temporariamente a circulação sanguínea local. Estes ingredientes podem contribuir também para a descamação de células mortas, especialmente quando se encontram associados a esfoliantes.
Por isso mesmo, é importante saber escolher o protetor labial mais adequado. “Deve ser um produto com estudos em pele sensível”, diz Joana Dias Coelho. “Sugiro usar hidratantes à base de aveia coloidal, vitamina E, vitamina B5, glicerina e manteiga de karité. Devem também ser hipoalergénicos”, acrescenta ainda.
Já de acordo com Marta Ferreira, a escolha deve depender da preferência pela textura – ou seja, se há mais “queda” pelos sólidos, em bastão, ou semissólidos, em stick ou bálsamo – pela cor, pelo sabor, pela proteção solar, ou por produtos de efeito refrescantes.
“Os principais ingredientes destes produtos são óleos, ceras e manteigas, que formam uma camada de gordura de função semelhante à do sebo da pele dos lábios, que impede que a água que provém da circulação sanguínea evapore para o ambiente exterior, e proporcionam também suavidade e lubrificação”, afirma. Estes produtos podem conter ainda ingredientes como o pantenol (pró-vitamina B5), alantoína ou extrato de centelha asiática que contribuem para acelerar a renovação da pele, diz ainda a farmacêutica.
Como prevenir a secura dos lábios
Para prevenir ou reduzir “a severidade da secura labial”, é essencial “utilizar batons ou bálsamos labiais sempre que estamos expostos a condições atmosféricas, tratamentos ou procedimentos que possam contribuir para a perda de água através da pele dos lábios”, explica Marta Ferreira.
Para Joana Dias Coelho, a hidratação com um hidratante labial 3 a 4 vezes por dia é a chave. “Se já houver eczema, a aplicação de um corticoide tópico 2 vezes por dia durante 3 dias vai ajudar a recuperar”, refere ainda a dermatologista, acrescentando que “não se deve humedecer com saliva, já que a acidez agrava a secura e não se devem arrancar ou mexer nas peles secas”.
A médica diz ainda que é importante evitar hábitos como mexer nos lábios, arrancar peles ou morder, mas também humedecer os lábios com a língua, já que “a acidez da saliva é irritativa”.