Uma das resoluções de ano novo mais comuns é regressar ou iniciar a atividade física: começar a correr, voltar aos treinos no ginásio ou experimentar um desporto diferente. Para algumas pessoas, este objetivo “morre” pouco tempo depois de o novo começar, porque a motivação depressa diminui.
Vários motivos podem justificar a indisponibilidade para se realizar exercício físico com consistência, desde questões financeiras – estudos demonstram que pessoas com mais dinheiro tendem a praticar mais exercício físico -, por exemplo, até certas limitações físicas ou devido aos horários de trabalho excessivos.
A resistência ao exercício físico também pode estar ligada a certos traumas de infância, por exemplo. À TIME, Jackie Hargreaves, professora de psicologia do desporto e do exercício na Universidade Leeds Beckett, no Reino Unido, explica que muitas pessoas têm sentimentos negativos relativos ao exercício físico porque as relembra de alguma experiência desagradável, mesmo que inconscientemente – por exemplo, um momento embaraçoso numa aula de ginástica.
Isto leva a crer que o cérebro tem um papel importante na resistência que, muitas vezes, temos em fazer exercício físico. À mesma revista, Daniel Lieberman, biólogo da evolução humana e autor do livro Exercised: Why Something We Never Evolved to Do is Healthy and Rewarding, explica que os nossos antepassados não corriam com o objetivo de queimar calorias extra, já que era “uma coisa estúpida de se fazer” do ponto de vista evolutivo.
Os caçadores-coletores, que dependiam da caça de animais e da recolha de plantas para conseguirem alimentos, não desperdiçavam energia a correr sem propósito já que essa ação não trazia “qualquer benefício”. Ao longo do tempo, explica o biólogo, os humanos terão evoluído para suportarem um elevado nível de atividade física, mas também para descansarem quando era possível, com o objetivo de conseguirem conservar energia. E hoje em dia, o instinto de conservarmos energia mantém-se. Ou seja, para o especialista, o “desinteresse e relutância” em fazer exercício “é completamente normal e natural”.
Vários estudos demonstram isso mesmo. O investigador em atividade física da Universidade de Ottawa, no Canadá, Matthieu Boisgontier, explica, por exemplo, que as pessoas preferem utilizar as escadas rolantes em vez das escadas e um estudo realizado pela sua equipa em 2018 descobriu que evitar o sedentarismo exige mais energia cerebral, o que leva a concluir que “temos uma tendência automática” para escolhermos relaxar em vez de nos mexermos.
O especialista afirma que “esse instinto natural não é inerentemente mau”. Contudo, refere que “chegámos a um extremo” em que poupar energias “já não é benéfico para a nossa saúde”. Por isso mesmo, é essencial contrariar esta tendência, defendem os especialistas.
Pode começar-se com pequenas caminhadas e, à medida que a sensação de conforto aumenta, é possível evoluir para um treino mais intenso e longo, se assim pretendermos: não é necessário realizarmos um treino demasiado intenso para sermos mais ativos e saudáveis.
E não devemos desanimar, mesmo se o nosso cérebro continuar a dizer-nos que não devemos fazer exercício físico. “Quando as pessoas se esforçam por fazer exercício, dizem-lhes que são preguiçosas ou que há algo de errado com elas”, diz Lieberman, acrescentando que a realidade é que as pessoas que fazem exercício físico apenas para manter a forma são as que estão a trabalhar contra os seus instintos naturais.