Um novo estudo, desenvolvido por investigadores da Universidade Drexel, na Filadélfia, EUA, concluiu que qualquer quantidade de tempo passado à frente de um ecrã em crianças a partir de um ano está associada a um risco duas vezes maior de haver a ocorrência de comportamentos sensoriais incomuns, que podem levar à Perturbação do Processamento Sensorial (PPS), um distúrbio neurológico que afeta a forma como o cérebro processa as informações recebidas pelos sentidos.
Além disso, a equipa percebeu que cada hora adicional de tempo de ecrã duplicou os riscos ligados a problemas de comportamentos sensoriais posteriores, tal como a incapacidade de responder quando chamam o seu nome, em comparação com crianças não expostas aos ecrãs.
“Considerando esta ligação entre o tempo elevado de ecrãs e uma lista crescente de problemas de desenvolvimento e comportamentais, pode ser benéfico para as crianças que apresentam esses sintomas passarem por um período de redução do tempo de ecrã, juntamente com práticas de processamento sensorial desenvolvidas por terapeutas ocupacionais”, diz, citada pelo Daily Mail, Karen Heffler, professora de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Drexel e principal autora do estudo.
Para a realização do estudo, a equipa de médicos analisou dados de quase 1500 crianças, que foram recolhidos entre 2011 e 2014. Além disso, realizou questionários aos seus pais, relativamente aos níveis de exposição dos seus filhos aos ecrãs da televisão quando estes tinham 12 meses, 18 meses e 24 meses.
Segundo os investigadores, cerca de 11% dos pais referiram que os seus filhos não viam televisão aos 18 meses e cerca de 48 % afirmaram que os os filhos viam cerca de meia hora por dia, 18% disseram que viam duas horas por dia e 8% relataram que viam entre três e cinco horas por dia.
A equipa percebeu que, aos 12 meses, qualquer exposição a ecrãs estava associada a uma probabilidade 105% maior de as crianças terem comportamentos sensoriais típicos de Perturbação do Processamento Sensorial tais como a incapacidade de responder adequadamente a estímulos no seu ambiente, aos 33 meses, em comparação com as crianças que não tiveram qualquer tempo de ecrã.
Já aos 18 meses, cada hora adicional de tempo de ecrã diariamente aumentou em 23% as hipóteses de as crianças revelarem este tipo de comportamentos e aos 24 meses cada hora adicional de tempo de ecrã foi associada a um aumento de 20% de problemas relacionados com a procura de sensações e, por outro lado, a procura por evitá-las, aos 33 meses.
Crianças com PPS, que muitas vezes anda de mãos dadas com o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e com o Transtorno do Espectro autista (TEA), podem ser extremamente sensíveis a luzes e ruídos altos, evitando certas sensações – sons altos e luzes brilhantes ou sabores ou cheiros desagradáveis por exemplo – ou, pelo contrário, procurarem estímulos adicionais de outras maneiras – olharem para luzes brilhantes ou observarem ventiladores de teto a girar.
“Na medida em que o tempo elevado de ecrã pode aumentar o risco de sintomas de TEA, as descobertas atuais levantam a hipótese de que o tempo de ecrã possa impactar o desenvolvimento sensorial”, dizem os investigadores.
Apesar destes resultados, o estudo, publicado no JAMA Pediatrics, não encontrou uma relação direta de causa e efeito entre distúrbios sensoriais e excesso de tempo de ecrã, no início da vida.
Além disso, a investigação teve como foco a visualização de televisão e filmes em DVD e não a utilização de tablets e smartphones. Mas os investigadores dizem que, apesar das diferenças tecnológicas entre o ecrã de uma TV e de um tablet, os efeitos são muito semelhantes.
No geral, estas descobertas acrescentam a Perturbação do Processamento Sensorial à lista de efeitos potencialmente graves de as crianças passarem muito tempo expostas aos ecrãs.