É “só” uma cerveja, é “só” um copo de vinho, é “só” um cocktail. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) não há “só”, não existe dose segura de ingestão de bebidas alcoólicas. Está comprovado cientificamente que beber nem que seja apenas uma bebida alcoólica por dia pode aumentar a tensão arterial; beber álcool com moderação pode ajudar a diminuir o risco de doenças cardiovasculares, uma vez que auxilia na redução dos níveis de stress, mas, por outro lado, qualquer quantidade de álcool aumenta o risco de cancro. Afinal, beber um copo de vinho por dia não faz melhor à saúde do que não tocar em álcool.
Quantas pessoas haverá que pensam que o mal que faz o que beberam na sexta-feira à noite poderá ser eliminado, no fim de semana, quando forem dar uma corrida ou uma volta de bicicleta, jogar padel ou futebol com os amigos ou passarem pelas máquinas no ginásio.
Mas, Miguel Ruano, professor da Faculdade de Ciências da Atividade Física e do Desporto, em Madrid, e membro do grupo de investigação psicossocial no desporto, alerta, num artigo do jornal El País, para como a ressaca afeta as reações dos praticantes, diminuindo a resposta aeróbica e a coordenação, sem descartar o impacto nas lesões. A prevalência de lesões aumenta em atletas que consomem álcool regularmente.
No desporto profissional, o futebolista brasileiro Adriano Leite reconheceu ter tido problemas de alcoolismo quando, em 2008, jogava no Inter de Milão e chegou ao treino bêbado, o que levou o treinador na altura, José Mourinho, a mandá-lo para casa. Não nos podemos esquecer que o álcool (etanol) é uma substância não recomendada pela Agência Mundial Antidoping e proibida por algumas federações que realizam testes de alcoolemia.
Os efeitos negativos do álcool durante a prática desportiva, seja exercícios ou em competições, depende de muitos fatores, como a idade, o género e a compleição física do atleta; a quantidade ingerida e se é habitual ou esporadicamente; a duração do exercício e as condições ambientais em que é praticado. Com tantas variantes na equação, vale a pena perceber a multiplicidade de reações.
Quando o álcool produz maior desidratação do corpo e diminuição da síntese de glicogénio, podendo provocar hipoglicemia, após o treino, dá-se uma reação metabólica.
Uma resposta cardiovascular negativa é acionada quando a frequência cardíaca diminui o seu desempenho do ventrículo esquerdo ou aumenta a pressão arterial.
A parte neuromuscular é condicionada graças a altas doses de álcool que afetam o funcionamento do sistema nervoso central, resultando na diminuição da função cognitiva, da motricidade e do tempo de reação. Dessa forma, a coordenação, o equilíbrio, o controlo motor fino e o desempenho ficam comprometidos.
Um caso inflamatório em processo de recuperação pode piorar, pois o consumo de álcool causa dano muscular.
Ao afetar a regulação da temperatura corporal, sobretudo em condições de frio durante esforços prolongados, afeta também o desempenho.
A ingestão de álcool afeta quem bebe e depois se vai exercitar, bem como os seus colegas de equipa, podendo pôr em risco a segurança do grupo em atividades motorizadas ou de montanha como a escalada, por exemplo. O consumo de oxigénio, a produção de dióxido de carbono e o gasto energético são postos em causa.
Por isso, Miguel Ruano deixa um conselho: esperar 48 horas entre ter bebido álcool e ir fazer exercício físico, de modo a não interferir no desempenho desportivo.
Devido à desidratação que o excesso de álcool provoca, é preciso repor os níveis de água no organismo, para evitar o aumento dos efeitos negativos, considerados a partir de 0,9 gramas de etanol por litro de sangue (em Portugal é proibido conduzir com uma taxa de álcool no sangue igual ou superior a 0,5 gramas por litro de sangue; e se for igual ou superior a 1,2 g/l é considerado crime). Tudo em prol da segurança e da saúde.