Um estudo desenvolvido por um grupo de investigadores da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, revelou uma nova forma de identificar pessoas com dissociação cognitiva e motora, um fenómeno que afeta a capacidade de resposta de pacientes com lesões cerebrais. A investigação concluiu que existem padrões nas lesões cerebrais de pessoas com a dissociação, o que pode facilitar e acelerar o seu diagnóstico e tratamento. O objetivo deste estudo passou por facilitar o rastreio da condição ao recorrer a equipamento tecnológico disponível em hospitais – a eletroencefalografia e a ressonância magnética. O recurso a ambas as tecnologias pode acelerar o processo de diagnóstico e, por conseguinte, o tempo de recuperação dos doentes.
“O nosso estudo sugere que os doentes com dissociação cognitiva e motora conseguem ouvir e compreender comandos verbais, mas não conseguem executar esses comandos devido a lesões nos circuitos cerebrais que transmitem instruções do cérebro para os músculos”, explicou Jan Claassen, médico e diretor de Neurologia na Universidade de Columbia.
A dissociação cognitiva e motora é uma perturbação cerebral que surge após lesões graves no cérebro. A patologia impede que o paciente, apesar de reconhecer parte da realidade à sua volta, consiga responder fisicamente aos comandos dados pelos médicos. Na ausência dessa resposta física, o risco de erro no diagnóstico aumenta, ao poder ser confundido com um coma. Segundo estudos anteriores, a dissociação cognitiva e motora ocorre em cerca de 15% a 25% de doentes com lesões cerebrais resultantes de traumatismo craniano, hemorragia cerebral ou paragem cardíaca e que não reagem aos comandos do médico. Contudo, a maioria não chega sequer a ser diagnosticada.
O novo estudo utilizou ressonâncias magnéticas e eletroencefalografias de forma a averiguar a existência de padrões específicos nas lesões dos pacientes com dissociação cognitiva e motora. Primeiramente, a equipa de investigadores realizou eletroencefalografias em 107 pacientes com lesões cerebrais, dos quais 21 foram identificados como sendo portadores da condição. Em seguida, esses dados foram cruzados com dados das ressonâncias magnéticas, o que levou à identificação de padrões de lesões cerebrais que apenas podem ser observados em doentes com dissociação.
“Utilizando uma técnica que desenvolvemos, conseguimos identificar padrões de lesão cerebral que são partilhados entre os doentes com dissociação e contrastam com os doentes sem a patologia”, explicou Qi Shen, um dos autores envolvidos no estudo. A utilização destas ferramentas pode facilitar o rastreio de padrões que identifiquem mais facilmente os doentes que estejam a sofrer de dissociação e a evitar que sejam submetidos a medidas de suporte de vida desnecessárias, comumente usadas em pacientes em coma.
Os investigadores descobriram que todas as estruturas cerebrais relacionadas com compreensão dos comandos permanecem intactas, o que comprova a ideia de que estes doentes compreendem as insruções dadas pelos médicos, mas são, contudo, incapazes de os seguir. Os padrões de lesões descobertos estavam localizados em áreas do cérebro importantes para a coordenação motora.
Já o ano passado, um estudo desenvolvido pela mesma equipa mostrou que pessoas com dissociação cognitiva e motora apresentam mais hipóteses de recuperação do que pacientes em coma. Os especialistas pretendem agora alargar o espectro do estudo a mais pacientes.
Futuramente, o grupo de investigadores espera ainda a poder recorrer a tecnologia avançada – como interfaces cérebro-computador – que possibilite a uma pessoa com dissociação conseguir controlar, através de um dispositivo externo, a parte motora afetada pela doença.