O New York Times escreve que a terapeuta sexual norte-americana Vanessa Marin, e autora do livro “Sex Talks: The Five Conversations That Will Transform Your Love Life”, reparou num padrão específico entre os seus pacientes que estavam em relações de longo prazo: a maioria referia que os seus parceiros só tocavam neles quando a sua vontade era ter relações sexuais e que esse gesto fazia-os estremecer.
Um pequeno toque podia desencadear uma reação intensa e involuntária de surpresa, a que a especialista deu o nome de bristle reaction, que pode tornar-se confusa e até perturbadora para o casal. “É uma pessoa que provavelmente ama e em quem confia, mas fá-lo ter uma reação muito intensa a um toque tão simples”, explica Marin.
Esta pessoa pode acabar por sentir-se culpada devido à sua reação, que pode provocar no outro sentimentos de rejeição e vergonha, esclarece a especialista, que publicou um vídeo na sua conta de TikTok focado nesta reação, que tem já mais de 700 mil gostos.
Mas porque é que isto acontece?
De acordo com a especialista de Santa Bárbara, Califórnia, nos EUA, a bristle reaction pode não ser um sinal de que a intimidade de um casal pode estar a passar por uma crise sem solução.
Por outro lado, explica, é mais comum que em relações recentes haja mais intimidade e toque e, com o passar do tempo, é normal que esse afeto físico diminua. Contudo, este tipo de toque acaba por funcionar como “um meio para atingir um fim”, ou como uma espécie de preliminar porque acontece apenas quando existe iniciativa de haver sexo com o parceiro.
Por isso mesmo, torna-se muito pesado já que há uma expectativa associada a ele, o que cria uma grande hesitação que os biólogos denominam por honest signal (sinal honesto, em português), impossível de esconder. “O corpo entra numa resposta de defesa e diz: “não, não estou interessado””, explica ao jornal norte-americano Justin Garcia, Diretor Executivo do Instituto Kinsey, da Universidade de Indiana, nos EUA.
“Começamos a fazer essa associação de que quando o parceiro nos toca ou nos tenta beijar, isso supostamente traduz-se em sexo, o que pode levar-nos a desenvolver essa hipervigilância ao toque do nosso parceiro”, diz ainda Marin.
A terapeuta sexual explica também que, com o tempo, muitos casais dão sinais de que desejam intimidade física apenas através do toque ou sugestões físicas e a comunicação verbal nestes momentos pode deixar de existir.
Contudo, esta situação pode tornar-se confusa e negativa, até porque não existe, muitas vezes, vontade de fazer sexo por parte da outra pessoa. “Se não estiver com disposição naquele momento e sentir que o seu parceiro quer algum contacto, as suas paredes vão subir como um mecanismo de proteção”, esclarece Marin.
Como lidar com esta reação
Quando uma das pessoas do casal demonstra uma bristle reaction, não significa que não existe atração ou desejo sexual pelo parceiro. Contudo, é um sinal de que algo está a falhar, seja a comunicação verbal ou até uma discussão que não foi resolvida. Até pode significar que uma das pessoas está mais “desligada” da relação, mas existem maneiras de o casal lidar com isso.
É essencial, em primeiro lugar, comunicar verbalmente o que se pretende, o que está a falhar e que necessidades não estão a ser preenchidas. Esta conversa até pode acontecer depois de uma instrospeção pessoal, que abrirá caminho a um longo e honesto diálogo com o parceiro.
De acordo com Vanessa Marin, é importante, por isso, que o casal inicie a sua intimidade física com palavras, já que uma das principais causas da bristle reaction é a surpresa daquele toque inesperado. Em vez de haver toque, é essencial que a vontade de fazer sexo fique clara através da comunicação verbal.
Além disso, a especialista refere a importância de comunicar ao parceiro como gosta de ser tocado, já que muitas vezes essas informações não são comunicadas, o que cria espaços para confusões. “É mais fácil e divertido partilhar as suas maneiras favoritas de ser tocado”, esclarece.
E para evitar a associação direta entre o toque e o sexo, a especialista aconselha a que haja mais afeto físico sem ser nos momentos em que pretende ter relações sexuais, ou seja, incorporá-lo nas suas rotinas diárias, através de beijos e abraços, por exemplo.