Disfarçados entre os petiscos preferidos, os comprimidos são engolidos sem dificuldades pelo golden retriever Jake e pelo galgo Dennis. Ambos os cães, com 10 anos, integram o Dog Aging Project, uma iniciativa que acompanhará dezenas de milhares de outros exemplares caninos pelos Estados Unidos, durante dez anos, para tentar perceber quais os fatores ambientais e biológicos que ajudam a maximizar a longevidade. Jake e Dennis fazem parte de um estudo, dentro do projeto, que procura determinar se a rapamicina, um fármaco prescrito para prevenir a rejeição de órgãos após um transplante, aumenta o tempo de vida de cães de companhia e melhora as condições de saúde de cães idosos.
Se a pesquisa for bem-sucedida, também poderá ter alguns benefícios para os humanos. Os pesquisadores esperam que a rapamicina possa ser uma espécie de fonte da juventude em forma de pílula: uma droga antienvelhecimento que pode ajudar as pessoas – e seus animais de estimação – a viver vidas mais longas e saudáveis. Mais de 85 cães estão envolvidos no TRIAD (Test of Rapamycin in Aging Dogs), que está a ser conduzido pelo Hospital Veterinário da Universidade de Washington, mas conta com equipas de veterinários espalhadas pelo país. Contam chegar, no entanto, a mais de 500 “voluntários”.
Os investigadores esperam concluir o estudo em 2028. Durante este tempo, os cães terão um acompanhamento médico regular, com check-ups a cada seis meses e recolha de amostras de sangue, urina e fezes. “Ele faz mais exames do que eu”, contou Timothy Cleary, o dono de Jake, ao Insider. “Pode ser apenas pensamento positivo, mas parece que tem mais energia desde que começou a tomar os comprimidos”, acrescentou. Na verdade, Timothy não se sabe qual a dose de rapamicina tomada por Jake, ou se foi apenas contemplado com um placebo. O TRIAD mantém esses dados em segredo e depois fará a comparação dos resultados entre os cães para verificar o real efeito do fármaco na expectativa de vida. Veronica Munsey, dona do Dennis, também acredita que o pelo do seu cão, que estava a ficar grisalho, começou a escurecer novamente após a toma semanal dos comprimidos.
A rapamicina é um imunodepressor comummente utilizado contra o processo de rejeição de órgãos transplantados e que se mostrou eficiente no bloqueio de uma enzima que acelera a divisão celular, atalho para o envelhecimento. Os ensaios clínicos em ratos de meia-idade foram promissores, tendo a toma do fármaco, em baixas doses, aumentado em 60% o seu tempo de vida saudável. Mais recentemente, descobriu-se que também pode ajudar em certos tipos de cancro resistentes aos tratamentos, impedindo a reprodução das células cancerígenas. A rapamicina ajuda a suprimir as principais partes do sistema imunológico, retardando coisas como o crescimento do tumor e estimulando um processo de limpeza celular no corpo semelhante ao jejum.
A rapamicina atua numa proteína chamada mTOR, que controla parte das respostas do metabolismo a situações de stress. O acumular de resíduos e proteínas defeituosas nas células cresce ao longo do tempo e estimula o envelhecimento. A rapamicina age nessa estrutura “defeituosa”. Funciona como um disjuntor, que liga e desliga o mecanismo, embora apresente efeitos colaterais relevantes. O complicado é encontrar a dosagem ideal, para que não afete igualmente as células boas.
Avançar com estes estudos em animais como cães, mais complexos do que ratos e que partilham a nossa casa (e hábitos), permite que não se tenha de passar já para testes clínicos mais amplos em pessoas. “O facto de a vida de um cão refletir o ambiente humano dá-nos algumas razões para estarmos mais confiantes de que isto funcionará efetivamente nas pessoas”, afirmou Matt Kaeberlein, um dos diretores do Dog Aging Project, ao Insider.
Kaeberlein, atualmente com 49 anos, que já admitiu ter tomado rapamicina para aliviar os seus problemas com as articulações do ombro (e testemunhou sobre a sua eficácia), acredita que seria fantástico ter um fármaco tão barato como este para combater o declínio relacionado com o envelhecimento. Mesmo que isso não seja possível, ficaria satisfeito se os resultados da investigação pudessem beneficiar apenas os nossos fiéis companheiros. “Sou uma pessoa que gosta de cães e posso dizer que conquistei algo importante na minha carreira se tivermos esse impacto”, confessou. Muitos donos de cães estariam, certamente, de acordo.