Sabemos que o frio é um aliado das gripes e constipações. Basta observar o aumento de espirros e fungadelas ao nosso redor mal chega o Inverno. No entanto, os mecanismos biológicos subjacentes à variação sazonal nas infeções virais respiratórias permaneciam pouco estudados. Ora, um estudo publicado no The Journal of Allergy and Clinical Immunology, no mês passado, avançou pela primeira vez com uma explicação biológica e molecular sobre o aumento das doenças respiratórias nesta época, apesar dos vírus e bactérias circularem durante todo o ano. A resposta está, precisamente, na exposição ao frio, que reduz a resposta do sistema imunitário localizado no nariz.
A cavidade nasal é um dos principais pontos de contacto entre o meio ambiente e o corpo humano e é altamente sensível a mudanças na temperatura. A mucosa nasal funciona como uma barreira física contra a exposição a patógenos respiratórios inalados, por força de múltiplos mecanismos imunológicos. Quando um vírus ou bactéria respiratória invade a cavidade nasal, é detetado logo à entrada e as células que a revestem começam a criar imediatamente milhões de cópias de si próprias, as chamadas vesículas extracelulares (VE). A equipa de investigadores explicou o papel destas sentinelas, que se movem rapidamente para o muco para cercar e atacar as bactérias antes que elas sejam capazes de infetar as células e atacar o resto do nosso corpo. Cada vesícula tem muito mais recetores na superfície do que as células originais, e são estes recetores que retêm os germes e impedem-nos de avançar, como se fossem armadilhas. Quando está sob ataque, o nariz aumenta a produção de VE em 160 por cento. Além disso, os cientistas também descobriram que as vesículas estimuladas continham quantidades maiores de micro RNA – pequenos filamentos de RNA (ácido ribonucleico) – conhecidos pela atividade antiviral.
Essa primeira linha de defesa do nosso organismo é prejudicada com o frio. O estudo observou que a redução da temperatura dentro do nariz em apenas nove graus Fahrenheit (5 graus Celsius) mata 42 por cento dos milhares de milhões de células de combate a vírus e bactérias existentes nas narinas. Ao mesmo tempo, as vesículas que resistiram tinham quase metade da quantidade desses micro RNA assassinos e menos 70 por cento de recetores, tornando-se menos eficazes.
“Convencionalmente, pensava-se que a temporada de gripes e constipações ocorria nos meses mais frios porque as pessoas ficam mais presas em ambientes fechados, onde os vírus transmitidos pelo ar podem espalhar-se mais facilmente”, afirmou em comunicado Benjamin Bleier, um dos autores do estudo, diretor de otorrinolaringologia no Massachusetts Eye and Ear e professor associado na Escola de Medicina de Harvard. “No entanto, o nosso estudo aponta para uma causa biológica para a variação sazonal nas infeções virais respiratórias superiores que vemos a cada ano”.
Se houve algo que aprendemos com a pandemia de Covid-19, é que as máscaras ajudam a manter o nariz quente. “O uso de máscaras pode ter um papel protetor duplo”, diz Bleier. “Evita a inalação física das partículas [virais], mas também mantém as temperaturas, pelo menos a um nível relativamente mais alto do que o ambiente externo”. Prolongar o seu uso poderia ser uma ajuda preciosa no combate às gripes e constipações. No futuro, a equipa investigará como a resposta imunológica do nariz protege contra todos os tipos de invasores e como a imunidade pode ser mantida alta.