A atividade humana tem aumentado os níveis de mercúrio na natureza, e o problema é particularmente grave no meio aquático, onde esta substância se transforma num composto designado por metilmercúrio (MeHg), considerada a forma mais tóxica e prejudicial deste elemento químico. É nesta forma que o mercúrio é ingerido pelos peixes e se vai acumulando, pelo que, quanto mais alta for a posição do organismo na cadeia alimentar, maior será a sua concentração de metilmercúrio. Os predadores (como os tubarões) alimentam-se de outros peixes, e por isso acumulam os metais agregados pelas suas presas.
O risco de consumo agrava-se sobretudo em crianças e mulheres grávidas ou em processo de lactação, uma vez que o sistema nervoso em desenvolvimento é particularmente sensível ao MeHg. Contudo “não significa que o risco de neurotoxicidade em adultos deixe de existir”, aponta Bárbara Beleza, presidente da mesa do conselho geral da Ordem dos Nutricionistas. Segundo a profissional de saúde a exposição a altos níveis de MeHg, tanto em crianças como em adultos, pode levar a défices neurocognitivos, como dificuldade na coordenação dos movimentos, articulação de palavras, perda de audição e distúrbios visuais. Estudos associam ainda a ingestão regular de peixes com alto teor de mercúrio a uma maior incidência de morte por enfarte de miocárdio, doenças coronárias e cardiovasculares.
Portugal está entre os 10 principais países exportadores e importadores de carne de tubarão a nível mundial – e, segundo os dados da Sea Sheperd, pelo menos 32 restaurantes nacionais oferecem carne de tubarão nas suas ementas. Apesar do seu valor nutricional, que compreende uma percentagem proteica superior aos 20% e riqueza em aminoácidos, a toxicidade do tubarão pode ser maior do que os benefícios, quando o consumo é regular.
De modo a criar uma dieta com menores concentrações de mercúrio, os nutricionistas recomendam que se limite a carne de tubarão, ou que o seu consumo seja alternado entre peixes de médio porte. As instruções do Serviço Nacional de Saúde britânico ditam que o consumo de peixes potencialmente contaminados por MeHg não deve passar de mais de uma porção por semana.
É importante ressaltar que o peixe ainda é um elemento fundamental para a dieta humana, porém é aconselhável limitar o consumo de espécies com alto teor de metilmercúrio, como o tubarão, peixe-espada, atum fresco, cavala, bonito e pargo. Já para os grupos de risco desaconselha-se o consumo destes peixes.