Os problemas de visão nos mais novos podem incluir estrabismo, obstrução do canal naso-lacrimal, ambliopia, o chamado olho preguiçoso, e os erros refrativos, uma condição ótica em que, num olho em repouso, os raios de luz paralelos não focam de forma conjugada na retina. Contudo, também existem patologias mais raras e de maior gravidade, tal como o retinoblastoma, um tipo de tumor raro que atinge o olho, especificamente a retina. Estes problemas menos comuns podem fazer com que haja alterações irreversíveis da visão, mesmo com os melhores tratamentos.
“A maioria das crianças não se queixa e desenvolve estratégias para compensar as dificuldades que o seu sistema visual possa ter. Por exemplo, uma criança que apenas veja bem de um dos olhos, pode conseguir ver aviões no céu e apanhar pequenos objetos e, no entanto, fá-lo somente à custa da informação visual de um dos olhos”, alerta a médica oftalmologista Ana Vide Escada, Secretária Geral Ajunta da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia. Por isso, refere a médica, é “essencial que os pais estejam atentos ao comportamento visual dos filhos”.
No Dia Mundial da Criança, que se celebra esta quarta-feira, 1 de junho, a especialista desconstrói alguns mitos e explica outros tópicos em relação à visão dos mais novos:
- Os ecrãs fazem mal aos olhos?
Os dispositivos digitais quando são bem utilizados podem ser importantes ferramentas educativas e de lazer. Contudo, é importante monitorizar a sua utilização, nomeadamente evitar que os mesmos estejam muito próximos dos olhos pois podem levar a queixas de cansaço visual, olho seco e a perturbações da focagem. Assim, aconselha-se seguir a regra 20/20/20, ou seja, a cada 20 minutos, uma pausa mínima de 20 segundos a uma distância mínima de 20 pés (6 metros).
- As crianças podem utilizar óculos de sol?
As medidas que se aplicam à proteção da pele nos mais novos estendem-se também à proteção ocular, ou seja, deve evitar-se a exposição direta ao sol entre as 11h e as 15h no período do Verão. Ao escolher uns óculos para o seu filho certifique-se de que as lentes têm filtro de proteção contra os raios ultravioleta (UV) próximo dos 100% e que são de boa qualidade ótica (sem distorção), nunca devendo estar riscadas ou com falhas.
- O estrabismo na criança cura-se de forma natural com o seu crescimento?
Qualquer alteração do alinhamento dos eixos visuais, mesmo que não permanente, presente depois dos 6 – 9 meses de idade não é normal e a criança deve ser observada numa consulta. Por outro lado, há formas de estrabismo que aparecem mais tarde, nomeadamente as que estão associadas ao esforço acomodativo (de focagem), que tipicamente surgem pelos 3 – 4 anos de idade, em crianças até aí sem qualquer alteração aparente.
- É natural as crianças coçarem os olhos?
É natural, mas não significa que seja benéfico. Coçar os olhos de maneira repetitiva constitui um traumatismo físico que pode levar ao adelgaçamento e deformação da córnea (parte transparente do olho que se situa à frente da íris). Adicionalmente, o coçar pode induzir a inflamações oculares e até mesmo infeções, uma vez que as mãos são portadoras de agentes infeciosos. Neste sentido, apesar do estímulo que as crianças têm para o fazer, nomeadamente as que sofrem de alergias, este comportamento deve ser fortemente desincentivado pelos pais.
- As crianças não podem usar lentes de contacto?
A primeira ferramenta na correção das perturbações de focagem (erros refrativos) nas crianças são os óculos com lentes graduadas. No entanto, em casos selecionados as lentes de contacto também são uma opção, podendo ser adaptadas a qualquer idade. O uso de lentes de contacto neste escalão etário exige maior vigilância pelo médico oftalmologista e uma monitorização contínua diária por parte dos pais.
O que os pais devem fazer
De acordo com a médica, além da vigilância do comportamento visual dos filhos, é essencial uma vigilância periódica em consultas de oftalmologia. “A primeira consulta não deve exceder os 3 anos e as restantes deverão ocorrer com a periodicidade que for aconselhada pelo médico oftalmologista, tendo em conta não só as características da criança bem como o seu desenvolvimento global, o seu contexto escolar e os antecedentes familiares oftalmológicos”, afirma.
As crianças podem e devem ser vistas em qualquer idade, já que existem testes adaptados para cada escalão etário, sendo necessário estar atento a vários sinais de alerta: ficarem com olhos vermelhos ou coceira, recorrência de hordéolos ou chalázios (vulgarmente conhecidos por terçolhos) nas crianças mais pequenas, ter posições viciosas constantes da cabeça (torcicolos) e aproximação à televisão ou aos livros e tablets em demasia.
Em relação às crianças mais velhas, os cuidadores devem estar atentos às cefaleias (dores de cabeça), ao desinteresse pela escola ou mesmo ao mau aproveitamento. Além disso, explica a especialista, a presença de secreção/lacrimejo constantes ou de um estrabismo além dos 6-9 meses, seja este para fora (divergente), para o nariz (convergente) ou outro, são sinais evidentes de problemas oculares.