Uma equipa de investigadores americanos acredita ter curado a terceira pessoa do mundo- e primeira mulher – do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH). A mulher recebeu sangue do cordão umbilical de um bebé com resistência genética ao VIH e também de um de células estaminais de um dador adultos, ambos apenas parcialmente compatíveis com a paciente.
Em comparação com as células estaminais dos adultos, as do cordão umbilical são mais adaptáveis, pelo que não implicam uma compatibilidade tão absoluta para tratar com sucesso doenças como o cancro. No entanto, o sangue do cordão não tem células suficiente para tratar um doente adulto, pelo que este recurso é, normalmente, usado apenas na pediatria oncológica. No caso dos adultos, usa-se a transplantação adicional de células estaminais de um dador adulto.
A “paciente de Nova York”, como foi batizada – porque recebeu o tratamento no New York-Presbyterian Weill Cornell Medical Center – foi diagnosticada com VIH em 2013 e com leucemia em 2017.
O facto de a mulher ter recebido sangue de um dador parcialmente compatível aumenta a esperança de se curarem muitas mais pessoas, até porque a maioria dos doadores nos registos é de origem caucasiana. Portanto, permitir apenas uma correspondência parcial tem um grande potencial.
“O facto de ela ser mestiça e ser mulher é muito importante cientificamente e muito importante em termos de impacto na comunidade”, disse Steven Deeks, especialista em AIDS da Universidade da Califórnia, que não participou neste caso, ao The New York Times.

Acredita-se que o vírus progrida de maneira diferente nas mulheres do que nos homens, mas, embora as mulheres representem mais da metade dos casos de VIH no mundo, estas representam apenas 11% dos participantes nos ensaios que visam alcançar a cura.
Carl Dieffenbach, diretor da Divisão de Sida do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, uma das divisões que financia a rede de pesquisa para a cura do VIH, disse à NBC que o acumular de repetidos triunfos na cura do VIH “continua a dar esperança”. “É importante que continue a haver sucesso nessa linha”, diz.
Houve apenas dois outros casos de cura até agora: o “Paciente de Berlim”, Timothy Ray Brown, ficou curado do vírus durante 12 anos, até morrer em 2020 de cancro. Em 2019, Adam Castillejo foi declarado como curado do VIH, confirmando que o caso de Brown não foi apenas sorte. Ambos receberam transplantes de medula óssea de doadores que apresentavam uma mutação que impede a infeção.
No entanto, os dois homens sofreram efeitos secundários muito significativos, incluindo rejeição. Mas mais do que isso: Brown quase morreu depois do transplante e Castillejo perdeu quase 33 quilos depois do transplante, desenvolveu perda auditiva e sobreviveu a múltiplas infeções.
Já “a paciente de Nova Iorque” deixou o hospital após o transplante e não desenvolveu nenhuma doença até agora, afirma JingMei Hsu, médica da paciente no Weill Cornell Medicine. A combinação de sangue do cordão umbilical e células estaminais do dador podem tê-la poupado muito dos efeitos colaterais, tal como acontece no transplante de medula óssea.