Com o número de infeções diárias a aumentar, o R (índice de transmissibilidade) em 1,20 e a incidência a 14 dias em 228 casos por 100 mil habitantes faz sentido que as regras de testagem emanadas da Direção-Geral da Saúde (DGS), a 1 de outubro, se mantenham iguais? E as medidas impostas pelo Governo?
Perguntámos a dois médicos de Saúde Pública se a norma 015/2020 da DGS sobre o Rastreio de Contactos e testagem deveria ser alterada e, nas vésperas de um Conselho de Ministros que poderá ditar algumas alterações, se deveriam ser impostas outras limitações.
Gustavo Tato Borges e Bernardo Mateiro Gomes são da opinião de que as atuais regras da DGS são adequadas e que o problema não está aí.
Mateiro Gomes ressalva que a única “circunstância que poderia ser revista para minimizar os danos na comunidade” é o caso das escolas, quando turmas inteiras são enviadas para casa. O médico lembra que, por exemplo, nos EUA, se recorre ao “test to stay” (“testar para ficar”).
Ambos concordam que os testes rápidos deviam ser mais vulgarizados. “Temos de incluir estes testes na nossa rotina e haver recrutamento ativo, como postos móveis”, diz Mateiro Gomes.
“A regulamentação da DGS é muito abrangente, pode ir-se à farmácia, ligar para a linha SNS24 e em pouco tempo ter uma receita para fazer teste PCR. Não é por causa da norma em causa que o número de casos diários está a aumentar”, nota Gustavo Tato Borges. O especialista diz que “as pessoas estão a assumir que, como estão vacinadas, não precisam de ligar logo para o SNS24 e só o fazem alguns dias depois”. Tem relatos de infetados que diziam “estar só com o pingo no nariz, e como estamos no outono e costumam constipar-se e tal…”.
Quanto ao isolamento profilático de turmas inteiras ou contactos com infetados no trabalho, Tato Borges explica que a norma é clara. A avaliação de risco tem de ser feita pelo Delegado de Saúde e “tem-se sempre em conta a proximidade de cada uma das pessoas envolvidas”.
Em relação às medidas de uso de máscara nalguns locais e em outros não, este médico atesta que “não faz sentido que seja exigida máscara nas escolas e em concertos, mas em bares e discotecas não”, sendo que essa medida tem de ser revertida já na quinta-feira. “Ainda por cima, estamos numa altura de tempo mais frio, as pessoas mais tempo espaços fechados.”
Mateiro Gomes admite “que existam algumas incongruências”, mas que “também é difícil pensar que numa discoteca se utilize máscara”. E acrescenta: “A pergunta para o milhão de euros é esta: as discotecas tiveram impacto na transmissão?” O médico diz que os maiores erros foram “a testagem não ter sido alargada” e as falhas de “comunicação” por parte das autoridades de saúde.