O regresso à normalidade trouxe consigo a reabertura de bares e discotecas. Ao fim de quase dois anos, voltamos a dançar e beber noite dentro, não uma, mas, tantas vezes, duas ou três vezes por semana.
Os novos loucos anos 20 serão com certeza pautados de festa e vontade de recuperar a vida social posta em pausa durante tanto tempo. Mas tudo tem um custo e muitos foram recordados, nesta rentrée, do que é acordar de ressaca.
E quem sente que tem menos capacidade de aguentar uma noite de copos do que tinha em 2019, não está errado. Por um lado, como explica a nutricionista Ana Ni Ribeiro, “sempre que não consumimos uma substância durante muito tempo, o corpo reduz a produção das enzimas necessárias para a metabolizar” e, por outro, “quanto mais velhos ficamos, mais tempo o fígado precisa para desencadear o processo de desintoxicação, logo há maior concentração de acetaldeído no sangue e provoca mais ressaca”.
O que acontece quando ingerimos álcool é que o nosso fígado metaboliza-o e distribui-o por todas as células do corpo. Para o fazer, produz enzimas que transformam o etanol em acetaldeído e, depois, em acetato. “O acetato é considerado inofensivo para a saúde, contudo, o acetaldeído é uma substância tóxica para o organismo e o principal responsável pelos típicos sintomas associados à ressaca”, explica Ana Lemos, nutricionista do Hospital Lusíadas Lisboa.
Infelizmente, não existe uma cura milagrosa para os sintomas da ressaca resultante do consumo excessivo de alcool, no entanto, algumas estratégias preciosas podem ajudar quem já não se lembrava do que era acordar cansado, com náuseas, dor de cabeça e até, em alguns casos, tremores musculares.
1. Beber água ao longo da noite
“A desidratação é um fenómeno importante na ressaca. Quando bebemos, há uma inibição de uma hormona antidiurética, o que faz com que a pessoa urine mais e fique desidratada mais rapidamente”, explica José Velosa, diretor do serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Se intervalar as bebidas com água, o médico assegura que “os efeitos da ressaca são menores”.
“No mínimo, um copo de água por hora”, aconselha Ana Ni Ribeiro, explicando que, “por um lado, isto vai diminuir a absorção do álcool, por outro, dilui a bebida e faz ainda com que se beba menos, porque vamos matando a sede, não só com mais álcool, mas também com água”.
2. Deitar hidratado e hidratado erguer…
Ainda que o ideal seja ir intercalando álcool e água ao longo da noite, os danos podem ser minimizados se, ao chegar a casa antes de se deitar, beber uma boa quantidade de água. O mesmo deve ser feito ao acordar e ao longo das 12 a 24 horas após ter bebido álcool.
De manhã, José Velosa aconselha ainda o café, o chá ou um sumo de fruta e Ana Ni Ribeiro sugere o chá de gengibre para os enjoos e tonturas.
As bebidas isotónicas, que têm minerais e ajudam a repor a hidratação mais rapidamente, podem ser uma boa opção, mas são de evitar à noite, porque, “muitas vezes têm cafeína”, indica a nutricionista.
Apesar de não terem sido desenvolvidos para “curar” ressacas, há quem use medicamentos específicos para a desidratação. Um deles é o Dioralyte, uma solução que está indicada na correção da perda de água e sais em lactentes, crianças e adultos em caso de diarreia e/ou vómitos.
3. Preferir bebidas de cor clara
Ana Lemos revela que “existem algumas evidências que sugerem que a ingestão de bebidas de cor clara, como o gin ou vodka em detrimento das de cor escura como, por exemplo, o whisky, estão associadas a uma ressaca mais ‘’leve’’ devido ao processo de fabrico e da respetiva constituição “.
4. Beber com qualidade e de estômago cheio
Beber após uma boa refeição é sempre melhor para evitar a ressaca, os especialistas não têm dúvidas. Além disso, Ana Ni Ribeiro refere ainda que as bebidas com qualidade têm menos corantes e outras substâncias que, além do álcool, podem desencadear processos de intoxicação.
Por esta razão “é melhor beber menos e bom do que muito e fraco. O dia seguinte acaba por ser mesmo muito diferente”, assegura a nutricionista.
5. Receitas para sobreviver à manhã seguinte
Quantas noites não acabam em rulouttes de rua ou à mesa de um restaurante de alguma cadeia famosa de fast-food? Há quem jure a pés juntos que esta é a melhor cura para a ressaca, mas Ana Ni Ribeiro sublinha que “as comidas gordurosas não ajudam o corpo quando este já está em sobrecarga, em alerta e completamente intoxicado”. O ideal seria fazer uma alimentação mais leve e simples.
A nutricionista aconselha alimentos ricos em vitamina C, “que pode ajudar o fígado a digerir o álcool”, e alimentos ricos em vitamina B5 e B6, que muitas vezes se perdem quando bebemos. “Por exemplo, pode-se comer um iogurte com banana”.
Muitas pessoas também se sentem bem em comer ovos no dia seguinte. A nutricionista explica que tal acontece, porque o ovo tem uma proteína que ajuda o corpo a combater o toxicidade do álcool.
6. Tomar Guronsan e usar carvão vegetal
O nome Guronsan soará familiar a muitos. “É um medicamento usado genericamente para desintoxicar o fígado, até em situações mais crónicas. Tem glucosamina e um antiácido que pode eventualmente ajudar a metabolizar o álcool”, explica José Velosa. Há quem o tome antes de sair à noite, mas o médico afirma que é mais útil após termos bebido e que, de qualquer forma, o próprio fígado também vai fazendo o seu trabalho nas oito horas seguintes à ingestão de álcool. Já o carvão vegetal pode ser tomado antes de sair de casa e antes de ir dormir “para dificultar ou impedir a absorção do álcool”.
7. Nunca, mas nunca, tomar paracetamol
Como refere Ana Lemos, muitos dos sintomas de ressaca, como as tonturas e a fraqueza, devem-se à falta de fluidos. “O organismo tenta reidratar-se através de toda a água disponível, incluído as reservas cerebrais, provocando as típicas dores de cabeça”.
Por isso, na presença de dores de cabeça, mais vale morder a língua, aguentar e beber muita água. O paracetamol é que não, pois a quantidade de medicamento necessária para provocar lesão hepática é mais baixa quando se bebeu álcool. “O paracetamol é a principal causa de falência hepática (hepatite fulminante) aguda nos EUA e em Inglaterra e isso muitas vezes acontece quando se junta o paracetamol ao álcool”, alerta José Velosa.
Medicamentos como o ibuprofeno também não são aconselhados. As náuseas e os vómitos que se sentem no dia seguinte devem-se à toxicidade do metabolismo do álcool, mas também a alguma inflamação ou danos no revestimento do estômago e a toma de anti-inflamatórios pode agravá-los e até mesmo causar feridas.
8. 30 gotas de Cholagutt
Ana Ni Ribeiro sugere que se tomem 30 gotas Cholagutt, “três vezes no dia seguinte”. Este suplemento alimentar à base de plantas, é utilizado nos sintomas de má digestão, pois os seus componentes ajudam a regular o funcionamento do fígado e da vesícula biliar.
9. Beber menos durante o período pré-menstrual
As mulheres têm menos resistência ao álcool, pois produzem menos enzimas do que os homens. Além disso, há a questão hormonal. Da próxima vez que beber duas cervejas e acordar com uma grande dor de cabeça, confira se não está a poucos dias da menstruação. “Muitas mulheres que bebem no período pré-menstrual até podem beber pouquíssimo e ficar mal na mesma, porque o limite das enzimas nessa altura é muito mais baixo”, explica Ana Ni Ribeiro.