Desde o início do ano de 2020, têm sido documentados casos, em crianças aproximadamente entre os 5 e 12 anos, de uma síndrome denominada de Síndrome Inflamatória Multissistémica (MIS-C) – que corresponde a uma situação clínica de hiperinflamação generalizada, podendo afetar vários órgãos. Em alguns casos, as crianças têm de ser internadas nos cuidados intensivos. Esta doença, que tem sido associada à infeção por SARS-CoV-2, tem sido alvo de várias investigações para que se consiga perceber quais são realmente, as suas causas e efeitos.
Um novo estudo, publicado na revista “Nature Communications”, que analisou casos pediátricos de MIS-C, descobriu uma importante pista para a sua origem e desenvolvimento: o enfraquecimento das células T, devido à exposição contínua a agentes patogénicos em doentes com MIS-C, é um dos possíveis motores da doença.
“Um aumento de células NK (células exterminadoras naturais) – necessárias para o funcionamento do sistema imunitário – e o enfraquecimento de linfócitos T CD8+ (células do sistema imune) – capazes de induzir a morte de células infetadas através de mecanismos citotóxicos -, podem melhorar os sintomas da doença inflamatória”, salientou Noam Beckmann, investigador no Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, EUA, e co-autor do estudo.
Quando chegaram a essa conclusão, os investigadores encontraram nove reguladores-chave relacionados com esse fenómeno. “Um desses reguladores, TBX21 (que regula o desenvolvimento de linfócitos T) -associado à asma – é um alvo terapêutico promissor, porque serve como coordenador principal da transição das células T CD8+ de eficazes para enfraquecidas”, diz o investigador.
Embora o fator da imunidade relativa ao paciente tenha sido sugerido como a causa subjacente desde o aparecimento dos primeiros casos da síndrome e os genes e tipos celulares específicos permaneçam desconhecidos, neste novo estudo, os investigadores deram um passo importante, através da sequenciação de RNA (ácido ribonucleico) de amostras de sangue, ao descobrir novos campos de investigação que envolvem redes e sub-redes de genes complexas.
De acordo com Beckmann, “pesquisas anteriores tinham mostrado que, quando as células T CD8+ são persistentemente expostas a agentes patogénicos, entram num estado de ‘exaustão’, resultando na perda da sua eficácia e capacidade proliferativa”. Além disso, as células T CD8+, em particular, podem enfraquecer a resposta imunitária inflamatória e “um aumento das células NK está também associado a células CD8+ T esgotadas”.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) já tinha criadoum grupo de trabalho de peritos internacionais de recolha de dados padronizados, que descreviam as situações clínicas, a gravidade, os resultados e a epidemiologia da doença.
De acordo com os dados dos especialistas do grupo de investigação da OMS, os casos são raros – uma vez que ocorre a uma em cada 100 mil crianças – e permanecem estáveis desde a primeira vaga da pandemia. “Além disso, embora alguns tenham de ser internados na unidade de cuidados intensivos durante dois ou três dias, a sua evolução é muito boa, tal como a dos restantes afetados que não necessitam desses cuidados”, salientou Pablo Rojo, da Unidade de Doenças Infeciosas Pediátricas do Hospital 12 de Octubre, em Madrid, citado pelo El Mundo.
No entanto, os menores são, de facto, o grupo com uma das maiores incidências: neste verão, o número de crianças com Covid-19 aumentou nos hospitais, provavelmente devido ao grande aumento de casos nesta quinta vaga causada pela variante Delta (altamente contagiosa), especialmente entre a população jovem.
Esta síndrome, que é uma resposta inflamatória do corpo após a infeção por Covid-19, afeta diferentes sistemas: o gastrointestinal, pele e mucosas, e nos casos mais graves, mas muito raros, o cardíaco.