O Estudo de Sintomas de Covid-19 tem por base um aplicação móvel de investigação epidemiológica, desenvolvida no Reino Unido, e que resulta da colaboração entre o King’s College London, os hospitais Guy e St Thomas e empresa ZOE Global Limited. O objetivo da aplicação é registar sintomas e outros dados relevantes de um grande número de pessoas de forma a calcular os resultados epidemiológicos.
Baseado nas respostas de mais de um milhão de pessoas, de 25 de abril a 5 de junho, através desta app, a Zoe Covid, o investigador do King’s College Tim Spector, que lidera a investigação, concluiu que a tosse não é o sintoma mais comum e a perda do olfato não está entre os 10 principais dos infetados com a variante Delta, dominante atualmente no Reino Unido.Tim Spector considera que esta variante, detetada pela primeira vez na Índia, é semelhante a “uma constipação forte”, que afeta as gerações mais jovens.
“A Covid está agir de uma forma diferente agora, é mais como uma constipação forte. As pessoas podem pensar que só apanharam uma espécie de constipação sazonal e continuam a ir a festas… achamos que isso é o que está a alimentar grande parte do problema”, explica, num vídeo publicado na conta dedicada a esta app no YouTube.
Segundo Henrique Lopes, professor da Universidade Católica Portuguesa e especialista em saúde pública, o facto de o uso de máscara não ser obrigatório até ao ensino secundário no Reino Unido explica essa prevalência entre os mais jovens, que ou não estão ainda vacinados de todo ou estão apenas parcialmente.
A faixa etária dos 11 aos 24 anos é a mais afetada, provocando uma reprodução mais rápida dentro do organismo e uma maior propagação do vírus, sublinha Henrique Lopes.
Ainda de acordo com os resultados da análise de Spector, a variante Delta é pelo menos 40% mais transmissível do que a variante Alfa, detetada pela primeira vez em Kent (que ficou conhecida como a variante britânica).
Henrique Lopes destaca a relevância de pesquisas como esta, mas pede cautela: “Um fenómeno antes de ser generalizado deve ser estudado por outros centros de sintomatologia, e só após ser publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como variante de preocupação (VOC, do inglês Variant of Concern)”.
Desde a caracterização genómica inicial do SARS-CoV-2, o vírus evoluiu em diferentes grupos genéticos. A ocorrência de mutações é um fenómeno natural e expectável dentro do processo de evolução do vírus. De acordo com a OMS, no momento em que determinada variante tenha um potencial impacto ou risco para a saúde pública, é considerada variante de preocupação.