Uma nova investigação, publicada esta segunda-feira na revista científica The Lancet Child & Adolescent Health, sugere que a maioria dos sintomas da Síndrome Inflamatória Multissistémica, típica de crianças e adolescentes depois de infetados com SARS-CoV-2, e com mais de 250 casos registados no Reino Unido e na Irlanda até junho de 2020, é resolvida, no geral, seis meses depois da alta hospitalar.
O estudo acompanhou 46 crianças, todas tratadas no hospital pediátrico Great Ormond Street Hospital, no Reino Unido, e concluiu que a maior parte dos sintomas de inflamação, cardíacos, neurológicos e gastrointestinais, desaparecia seis meses depois de receberem alta hospitalar, apesar de as crianças terem tido infeção grave.
A equipa de investigadores concluiu, também, que as consequências nos órgãos a longo prazo são raras mas que algumas das crianças que tiveram esta síndrome inflamatória grave foram aconselhadas, mesmo depois desses seis meses, a realizarem fisioterapia e apoio no que diz respeito à saúde mental.
Na fase inicial da pandemia, foram relatados alguns casos de uma doença estranha que se revelava mortal em crianças. Apresentava-se de forma semelhante à de Kawasaki e ao choque tóxico devido a alguns sintomas semelhantes, com febres altas durante alguns dias, manchas na pele, problemas gastrointestinais, inchaço dos gânglios do pescoço e, em casos mais graves, problemas cardíacos.
Denominada “Síndrome Inflamatória Multissistémica em Crianças”, a doença recebeu esse nome porque inicialmente fora diagnosticada apenas em crianças. Entretanto, foram publicados alguns estudos que descreviam uma condição semelhante em adultos, assim revelou um relatório do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças – agência de saúde americana – de outubro do ano passado.
Os investigadores desta nova investigação dizem que serão necessários mais estudos para determinar se os resultados se aplicam a todos os pacientes que sofreram esta síndrome. “O estudo não teve um grupo de controlo, o que torna difícil determinar até que ponto algumas conclusões são atribuíveis à experiência de ser admitido numa unidade de cuidados intensivos pediátrica, de ter uma nova doença grave durante uma pandemia ou à síndrome inflamatória multissistémica grave”, concluem, ainda, os investigadores.
Os primeiros relatos desta doença pediátrica surgiram em maio de 2020 no Reino Unido, com relatos semelhantes depois na Irlanda, Países Baixos, França, Espanha, Bélgica, Suíça, Itália e EUA. Em fevereiro deste ano, foi revelado que a síndrome inflamatória aguda, semelhante à doença de Kawasaki, estaria a afetar cada vez mais crianças, sendo que no Reino Unido havia relatos de uma centena de crianças por semana a serem hospitalizadas. Em Portugal, foi registado pelo menos um caso de um menino de 13 anos, em maio de 2020, que recuperou entretanto.
Calcula-se que tenham morrido, até agora, duas crianças com esta síndrome desde o início da pandemia.