É um conhecido antiviral, chama-se Remdesivir e estava a ser apontado até agora como um dos grandes trunfos no tratamento de doentes com Covid-19. Era mesmo o único medicamento com uma Autorização de Utilização Excecional – em regra concedida a tratamentos experimentais – permitida pela Food and Drug Administration, a agência americana que regula o setor. Mas segundo o mais recente estudo sobre os seus efeitos, conduzido pela Organização Mundial da Saúde, não tem o impacto esperado.
A investigação avaliou em larga escala os benefícios que, nos últimos meses, têm sido atribuídos ao Remdesivir – e também a outros, como a hidroxicloroquina (tão promovida por Donald Trump!) e ainda a combinação de Lopinavir e Ritonavir, usados contra o VIH, e de Interferon, aplicável em alguns tipos de leucemia. Apesar de ainda não ter sido revisto pelos pares, as conclusões a que chegou são devastadoras: nenhum deles ajudou os doentes a viver mais tempo ou a sair do hospital mais cedo. “Para cada medicamento do estudo, o efeito sobre a mortalidade foi decepcionantemente pouco prometedor”, sublinha agora a OMS, citada pela CNN.
Trata-se do mesmo estudo que deu muito que falar logo ao ser anunciado ao mundo, em março. Lançado pela OMS, que o apelidou de “ensaio clínico solidário”, tinha como objetivo juntar o maior número de países e cientistas na busca do melhor tratamento. Estava concebido, como adiantava então Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da instituição, para nos fornecer informação segura sobre os tratamentos mais eficazes contra a Covid-19. “Chamamos-lhe ensaio clínico solidário e usa procedimentos tão simplificados que até um hospital sobrecarregado pode participar”, acrescentava ainda aquele responsável. Tudo com o objetivo de queimar etapas e ganhar tempo, enquanto não chega a tão aguardada vacina.
Ensaios vão continuar
Seguiu-se, então, a avaliação dos efeitos produzidos em mais de 11 mil doentes de cerca de 30 países – e havia uma grande esperança de chegar a conclusões mais otimistas. A própria Gilead, farmacêutica que desenvolve este tipo de medicamentos inovadores e responsável pelo Remdesivir, divulgou um outro estudo, no final da semana passada, com outras conclusões.
Publicado no New England Journal of Medicine, essa investigação da Gilead avançava que o Remdesivir permitia reduzir o tempo de recuperação em cerca de um terço – no caso de adultos hospitalizados devido à Covid-19. Apenas não surtia grande efeito nos casos mais leves. Perante os dados agora conhecidos, a empresa manifesta algum espanto: “Os seus benefícios foram demonstrados em três ensaios clínicos aleatórios e controlados, incluindo um ensaio clínico aleatório, segundo o método duplo-cego e controlado por placebo – o padrão de ouro para avaliar a eficácia e a segurança dos medicamentos de investigação”.
Nada que ainda assim faça a OMS baixar os braços, com os seus investigadores a garantirem, à mesma CNN, que o “seu” ensaio solidário vai continuar – mas com outros tratamentos. “Novos medicamentos antivirais, imunomoduladores e anticorpos monoclonais contra o SARS CoV-2 estão agora a ser considerados para avaliação através do ensaio clínico solidário”.
