Normalmente, o processo desde a criação até à chegada ao mercado de uma vacina costuma demorar quase dez anos – milhares ou dezenas de milhares de pessoas são inoculadas com a vacina ou com um placebo e os meses os mesmo anos seguintes são passados a avaliar a diferença do número de infeções entre os dois grupos, ao mesmo tempo que se assegura que não tem efeitos adversos significativos.
A urgência criada pela pandemia de Covid-19 está a fazer encurtar tempos de forma inédita e há quem acredite que é possível ter uma vacina ainda este ano.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) está mesmo a ponderar a realização de um ensaio clínico para testar várias vacinas num único estudo. A ideia da OMS é ir juntando vacinas e participantes ao ensaio. As que não pareçam funcionar saem do estudo.
“Vai ser necessário um nível de coordenação que nunca existiu antes e num espaço de tempo nunca antes imaginado”, resume Mark Feinberg, presidente e CEO da International AIDS Vaccine Initiative. “Não se pode levar 200 vacinas a testes de eficácia”, concorda Seth Berkley, CEO da Vaccine Alliance de Génova, que financia programas de vacinação em países pobres.
Esta quantidade de potenciais vacinas contra o coronavírus levanta várias questões: quais serão testadas primeiro (ou quais chegarão sequer à fase de testes)? Como é que a sua eficácia vai ser avaliada e comparada?
Um dos critérios para definir a prioridade na testagem pode ser, por exemplo, a capacidade de produção, outro pode ser a resposta imunitária gerada nos primeiros ensaios clínicos em humanos e até nos estudos em animais, avança Marie-Paule Kieny, diretora de investigação do Instituto Nacional de Saúde e Investigação Médica de Paris.
Rip Ballou, da International AIDS Vaccine Initiative, acrescenta que de nada adianta chegar à fase III do ensaio para provar a eficácia de uma vacina sem um plano para pôr a vacina no mercado.
Há ainda mais uma possibilidade radical em cima da mesa para determinar a eficácia das vacinas: infetar intencionalmente voluntários jovens e saudáveis, em vez de esperar que fiquem infetados naturalmente, à semelhança do que já se fez em estudos sobre doenças infecciosas como a malária e a dengue.