“O nosso País está a entrar em sépsis (septicemia, a expressão mais comum usada) e Itália já está em falência multiorgânica. Para conseguirmos parar a evolução da sépsis para falência multiorgânica temos de aplicar medidas muito duras para impedir que o vírus ande de célula em célula, infetando os diversos órgãos”. Num texto escrito na sua página do facebook , o médico Tomás Lamas, internista e especialista em cuidados intensivos do Hospital Egaz Moniz, em Lisboa, admite que está “muito preocupado” e defende que “quanto mais cedo fecharmos o país, menor será o prejuízo da saúde, da finança, da economia, das nossas famílias”.
Comparando toda esta crise a uma doença, o médico que também trabalha nos cuidados intensivos da CUF, diz que“ o único tratamento eficaz para impedir a infeção de célula a célula é impedir que as células se comuniquem, se contactem, socializem e para isso é preciso paralisar as células”e impossibilitar os vírus de continuarem a infetar novas células, acabando por morrerem com a célula que infetaram”. E apela: “FECHEM o país, fechem as escolas, os estádios, FIQUEM todos em casa”, até o número de novos infetados começar a estabilizar.
“Cada dia que passa o número de infetados cresce exponencialmente e enquanto não paralisarmos as células, isto não vai parar. Vamos entrar em falência multiorgânica como a Itália”, escreve ainda.
À VISÃO, Tomás Lamas diz que decidiu escrever este texto por considerar que o Governo tem de agir o mais rápido possível. “Passo os dias a pensar: ‘Qual será o número mágico de infetados que leva a Direcção-geral de Saúde a fazer o mesmo que Itália e a fechar tudo”, diz, notando que devemos aproveitar as lições e experiências de outros países e o fato de termos mais tempo do que alguns tiveram. “Não podemos chegar ao que chegou Itália”, defende, dizendo que os relatos que lhe continuam a chegar dos colegas são alarmantes e devastadores. “Eles só nos dizem para nos preparamos pois teremos de tomar decisões muito difíceis e para as quais ninguém está preparado”, conta o médico, tem lidado com doentes infetados com a Covid-19, tanto no Hospital Egaz Moniz, onde tem três camas de pressão negativa para isolar dos doentes, como na CUF – onde os doentes com o vírus são encaminhados segundo orientações da DGS.
Neste dias, ao ver doentes e as suas TAC aos pulmões percebeu rapidamente o poder deste vírus . “São imagens impressionantes, tendo em conta a velocidade do infiltrado nos pulmões”. Por isso, um dos problemas é a quantidade de pessoas que podem precisar ao mesmo tempo de estar ventilado nas Unidades de Cuidados Intensivos. E, segundo o médico, que trabalha neste serviço do Egaz Moniz há oito anos, não só os que têm os pulmões muito atingidos precisam de ventiladores e cuidados intensivos. Há, explica, os doentes com corona que têm problemas nos rins e “tem de fazer diálise ou os que entram em choque e precisam de medicação em infusão continua”. Por tudo, pede: “Por favor PAREM o País!”