O que começou por ser apenas uma ideia de um estudante de pós-graduação da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, Andrew Anzalone, poderá transformar-se numa técnica revolucionária de correção de defeitos genéticos. Da colaboração com o químico do MIT, David Liu, surgiu uma nova versão da ferramenta de edição de genes, CRISPR-Cas9, que tem o potencial de corrigir praticamente todos os defeitos genéticos causadores de doenças, de uma forma rápida e eficaz.. Pela primeira vez, é possível fazer praticamente qualquer alteração sem necessidade de se cortar a dupla hélice da molécula de ADN.
Esta nova técnica, designada por ‘prime editing’, melhora a tecnologia de edição de genes CRISPR-Cas9 ao permitir a troca de cada um dos nucleótidos que constituem a dupla hélice de ADN – designados pelas letras A, T, C e G — num total de 12 combinações possíveis.
“Se o Crispr-Cas9 é como uma tesoura e os editores básicos são como lápis, podemos pensar no ‘prime editing’ como processadores de texto”, comparou o cientista, David Liu em conferência de imprensa.
Se os cálculos de Liu estiverem corretos, o novo método será capaz de corrigir cerca de 89% das mutações que provocam doenças heriditárias no Homem. Nas experiências efetuadas até agora em laboratório, a técnica já consertou as falhas genéticas causadores de anemia falciforme, fibrose quística e doença de Tay-Sachs. E estas são apenas três exemplos das mais de 175 edições bem sucedidas que a dupla revelou num artigo publicado na Nature.
O estudo está a ser recebido, simultaneamente, com entusiasmo e cautela, pelos pares. “No geral, a invenção do ‘prime editing’ é um momento em que todos os que trabalham em edição de genes podem levantar-se e aplaudir”, diz Fyodor Urnov, professor de biologia molecular e celular na Universidade da Califórnia, que, no entanto, pede calma: “Em termos práticos, está mesmo muito no início.”
Também Jussi Taipale, professor de bioquímica da Unversidade de Cambridge, considera estar perante um “grande avanço” que “passa de uma ferramente para cortar o genoma para uma verdadeira ferramenta de edição do genoma”.
O maior problema pode ser, acredita Gaétan Burgio, um geneticista da Universidade Nacional da Austrália, que não participou na investigação, que estes editores são enormes em termos moleculares. Tão grandes, explica, em declarações à Wired, que não vão caber facilmente nos vírus que os cientistas normalmente precisam de usar para levar a ferramenta de correção até às células.
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