Respondendo à pergunta de uma forma simplista: o número que for adequado ao risco de cada mulher.
O cancro da mama (CM) é um grupo heterogéneo de doenças, que não tem só um padrão de desenvolvimento, e o risco das mulheres a rastrear também é diferente. Assim, o número de mamografias a realizar por cada mulher tem de ser adaptado aos seus fatores de risco.
Dados publicados em 2014 revelaram que em 2008 o número de novos casos de CM no mundo foi 1,4 milhões, de que resultaram 446 mil mortes. Se nos circunscrevermos à Europa dos 28 países-membros, o número de novos casos de CM foi 450 mil, de que resultaram 140 mil mortes. A realidade portuguesa acompanha estes números, com 5 mil a 6 mil novos casos de CM em cada ano, de que resultam cerca de 1 500 mortes. O CM representa um problema de saúde pública no mundo, particularmente no ocidental.
O conhecimento desta realidade levou a Comissão Europeia, em 2003, a recomendar aos países-membros a implementação de programas de rastreio adaptados à realidade de cada país, com o objetivo de rastrear 75% da população-alvo e de reduzir 30-35% das mortes por CM.
Um programa de rastreio eficaz implica o conhecimento da doença que queremos rastrear e a sua história natural na população-alvo. É também fundamental conhecer e caracterizar a população-alvo que queremos atingir e escolher o teste adequado a aplicar. O teste adequado para o diagnóstico precoce do CM é a mamografia, e isto em tumores que ainda não são palpáveis, em mulheres a partir dos 50 anos. É o método de imagem decisivo que permite atingir taxas de sobrevida superiores a 90% quando as lesões têm menos de 1,5 cm.
A mamografia é um teste de diagnóstico de muito fácil execução, rápido, seguro e com excelente relação custo-benefício. Estas qualidades permitiram a sua utilização em grandes massas populacionais em todo o mundo, com uma redução da mortalidade por CM em 30-35%.
O exame de mamografia utiliza-se em duas vertentes principais: a mamografia de rastreio e a mamografia de diagnóstico.
A mamografia de rastreio é um exame de base populacional, dirigido a uma população-alvo (entre os 50 e os 69 anos) que é convidada a participar no rastreio e a realizar a mamografia a cada dois anos de intervalo.
O exame é realizado por um técnico de radiologia, sem observação pelo médico e sem complemento com ecografia. A leitura radiológica destas mamografias é feita por dois médicos radiologistas.
As discrepâncias entre os dois leitores e os exames com alterações patológicas são avaliadas em consulta de aferição. Esta forma de rastreio, de base populacional, foi e é decisiva para a redução da mortalidade por CM. Nenhuma mulher deve deixar de realizá-lo se for convidada.
A mamografia de diagnóstico é um exame dirigido a todas as mulheres com queixas clínicas em relação à mama, ou a mulheres que fazem autonomamente o rastreio do CM, quando têm idade para o rastreio e de acordo com o seu médico assistente. Este rastreio é o chamado rastreio oportunístico.
A mamografia é realizada por um técnico de radiologia e a leitura é feita por um médico radiologista, que procede à observação clínica e que, na maior parte das vezes, faz a ecografia mamária.
A mamografia de diagnóstico é ainda realizada a todas as mulheres com antecedentes pessoais de CM, complementada com ecografia mamária e axilar. Também realizam a mamografia de diagnóstico as mulheres com fatores de risco aumentados em relação à população geral e as mulheres com padrão mamário com densidade elevada. Estas mulheres não podem ser seguidas em programas de rastreio de base populacional. Este exame é sempre complementado com ecografia mamária e, muitas vezes, com RM mamária.
O intervalo da mamografia de diagnóstico é determinado caso a caso, mas é normalmente anual. Para a eficácia de qualquer programa de rastreio é fundamental conhecer e separar os vários grupos de risco.
No caso do CM, as mulheres são divididas em três grupos, consoante o risco individual:
– Mulheres com risco baixo: risco igual ou inferior a 10%, igual ao risco da
população geral;
– Mulheres com risco intermédio: risco superior a 10% e inferior a 20%;
– Mulheres com risco alto: acima dos 20%.
É com base nesta estratificação da população-alvo que se determinam as medidas de prevenção e de diagnóstico precoce.
As medidas de prevenção na população geral, com risco igual ou inferior a 10%, passam pelo diagnóstico precoce, cumprindo rigorosamente o programa de rastreio, com mamografia de 2 em 2 anos, e adotando hábitos de vida saudáveis, tais como: redução do excesso de peso; deixar os hábitos tabágicos e alcoólicos; fazer exercício físico regularmente; aumentar o número de filhos e incentivar a amamentação, e reduzir ou não fazer terapêutica de substituição hormonal na menopausa.
As mulheres classificadas com risco intermédio ou alto são as que têm antecedentes pessoais, familiares ou mutações genéticas que aumentam o risco individual de CM. Estas mulheres não podem ser seguidas em programas de rastreio de base populacional.
Têm de ser acompanhadas em centros de referência para o diagnóstico e tratamento das doenças da mama. O rastreio tem de ser individualizado, anual, ou muitas vezes com 6 meses de intervalo.
A ressonância mamária assume grande relevo no diagnóstico e no seguimento, mantendo-se a mamografia e a ecografia mamária como os pilares do diagnóstico.
As mulheres acima dos 70 anos não devem deixar de fazer o rastreio, mas este deve ser orientado pelo seu médico assistente.