
O estudo Silêncio e negação dos bispos católicos dos EUA sobre as mudanças climáticas revela que os alertas dados pelo Papa Francisco sobre as alterações climáticas foram largamente ignorados pelos seus próprios bispos.
Publicado na revista científica Environmental Research Letters por investigadores do Departamento de Estudos Culturais e Sociais da Creighton University, nos Estados Unidos, o estudo teve por base a análise de 12 077 comunicações pastorais oficiais escritas para paroquianos por bispos americanos de 171 das 178 dioceses católicas dos EUA ao longo de cinco anos, de 2014 (um ano antes de Laudato Si’ ser publicado, encíclica do Papa sobre a degradação ambiental e as alterações climáticas) a 2019.
Segundo a investigação, citada pelo site Inside Climate News, somente 93 textos (0,8%) mencionaram as mudanças climáticas, e boa parte foi para pôr em causa a sua existência: apenas 56 desses textos descreveram as alterações climáticas como um fenómeno real. Das 178 dioceses analisadas, 118 (69%) não publicaram fizeram qualquer menção às alterações climáticas e 148 (74%) dos 201 bispos nunca as mencionaram nas suas declarações.
“As nossas descobertas sugerem que a política pode superar a religião ao influenciar as crenças sobre as alterações climáticas até mesmo entre os líderes religiosos”, lê-se no estudo, que dá ainda conta que “a Igreja Católica Americana subtilmente envolve-se na negação do clima, embora o seu principal líder religioso (o Papa Francisco) tenha enfatizado a realidade científica e a urgência das mudanças climáticas”.
A propósito da 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP26), o Papa Francisco voltou a alertar para a emergência de agir contra as alterações climáticas. Numa mensagem dirigida à cimeira do clima, lida pelo secretário de Estado da Santa Sé, Pietro Parolin, o Papa alertou para o facto de se estar longe dos objetivos do Acordo de Paris e defendeu que “uma dívida ecológica crescente relacionada com desequilíbrios comerciais com repercussões ambientais” em relação aos países menos desenvolvidos e mais vulneráveis.