Proteger quem nos protege – é esse o objetivo da VERDE. Esta associação de Lousada, em parceria com a autarquia, começou por fazer um levantamento das árvores de grande porte do concelho (com pelo menos 1,5 metros de perímetro à altura do peito), para identificar as que devem ser preservadas a todo o custo. “De 7 400 árvores de grande porte, identificámos 400 que podem ser consideradas de interesse municipal e 100 de interesse público”, diz João Gonçalo Soutinho, fundador da associação, na conversa semanal da VISÃO VERDE.
Atualmente, em todo o País, só estão classificadas cerca de 500 árvores ou conjuntos arbóreos. “Raramente há interesse [em torná-las património], porque não há apoios na gestão”, lamenta. “Mas uma grande percentagem está em concelhos onde o turismo e o interesse patrimonial é uma mais-valia.” A associação quer lançar, no final do verão, uma rota das “gigantes verdes”.
A maior árvore de Lousada é um um tulipeiro-da-virgínia (são precisas quatro pessoas para a abraçar e tem cerca de 150 anos). A nível nacional, as mais largas são dois castanheiros, um com 12 e outro com 14 metros de perímetro (menos de nove pessoas de mãos dadas não conseguem abarcar o tronco).
A mais alta é um eucalipto (Eucalyptus diversicolor) da Mata Nacional de Vale de Canas, em Coimbra. Batizado de Karri, tem 73 metros de altura (mais cinco metros do que a segunda mais alta, em Espanha, que também é um eucalipto). É tão alta como um prédio de 25 andares, a Torre dos Clérigos ou as Torres das Amoreiras.
“Netflix do carbono”
Além de serem ilhas de biodiversidade em si mesmas, as grandes árvores têm uma enorme capacidade de absorver dióxido de carbono, mitigando o aquecimento global. Daí que seja mais importante manter uma delas do que plantar novas, sublinha João Gonçalo Soutinho. “Cada uma destas árvores [com pelo menos 1,5 metros de perímetro] consegue sequestrar 50 quilos de carbono. Um carvalho com 10 anos apenas sequestra 10 quilos. Destruir um gigante plantar um novo… Será preciso muito tempo para ter o mesmo impacto.”
A VERDE está a implementar um projeto de crowdfunding em que as pessoas podem ajudar a preservar as árvores, compensado, pelo caminho, a sua própria pegada carbónica. “É o primeiro projeto em Portugal deste género e um dos poucos na Europa. Isto faz-se normalmente em locais como a Amazónia, onde não podemos ver com os nossos olhos o que realmente está a acontecer.” A angariação de fundos termina no dia 11 de junho (já ultrapassou os €5 mil, quando a meta era de €3 500).
A ideia passa por ajudar os proprietários dos terrenos onde se encontram estes “gigantes verdes” a fazer a gestão correta das árvores (podas, tratamentos). “Qualquer pessoa pode subscrever estes planos de compensação da pegada de carbono. É como uma Netflix do carbono. 53% do valor, que pode ser de 2 a 75 euros, atribuído ao proprietário para a preservar, e 25% é para plantar novas árvores, para que no futuro haja mais gigantes.”
O presidente da associação espera que este seja um passo importante para que os portugueses deem às árvores a importância que elas têm. “Tratamos mal as nossas árvores. As pessoas abatem-nas devido às pressões urbanísticas e agrícolas. Queremos que Lousada funcione como projeto piloto e depois replicar para outros concelhos e tentar preservar as árvores em todo o território nacional.”
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