Produzir de forma sustentável é um bom investimento. Esta ideia simples está por detrás da criação do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), em 2015, uma iniciativa pioneira em Portugal, desenvolvida pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana e com a participação da Universidade de Évora.
João Barroso, coordenador do projeto, garante que se consegue conciliar uma agricultura produtiva com os valores naturais. “Desde que haja sensatez, bom-senso, e usemos as tecnologias e ferramentas que estão à nossa disposição, é possível, de uma forma pragmática e objetiva”, diz, na conversa semanal da VISÃO VERDE.
O PSVA, que ajuda os produtores de vinho a repensarem as fases de produção, através da promoção de boas práticas, foi criado essencialmente por uma necessidade vinda dos mercados exterrnos. “O Alentejo exporta 40% do vinho, e [os clientes de outros países] muitas vezes perguntam: qual a água que consomes? E promoves os ecossistemas? Pagas bem aos teus empregados? Qual a tua relação com a biodiversidade? E não havia resposta para estas perguntas. Noutros países e regiões, como Austrália, África do Sul e Califórnia, tinham a resposta na ponta da língua. O Alentejo queria estar no comboio que saísse da primeira estação.”
“Arcas de Noé de biodiversidade”
O projeto avalia 171 critérios divididos por 18 áreas, como gestão da água, recursos humanos, qualidade do ar e gestão de ecossistemas e da biodiversidade. E ajuda a implementar soluções muito concretas, sempre numa perspetiva de melhoria ambiental e económica. Um exemplo: recorrer a morcegos para combater as pragas da vinha. “Com a simples instalação de uma caixa a três metros de altura num poste, conseguimos atrair morcegos, que comem em média cinco vezes o seu peso em insetos por noite”, explica João Barroso. “É uma forma de usar menos pesticidas, o que tem impacto positivo a nível financeiro e ambiental.”
Admitindo que uma monocultura não é uma coisa boa, em termos de ecossistema, o coordenador do PSVA diz que o projeto tem trabalhado a promoção da biodiversidade nas vinhas. Um dos caminhos é a plantação de sebes funcionais, com arbustos ou árvores autóctones, que ajudam a enriquecer os ecossistemas, e não só.”Atraem mamíferos e insetos que predam as pragas da vinha, quebram o vento [os fenómenos de escaldão, provocados pelo vento quente são destrutivos para as culturas], aumentam o sombreamento e reduzem a temperatura”, sublinha.
Armas importantes numa região cada vez mais quente: as alterações climáticas trazem grandes períodos de secas e ondas de calor cada vez mais intensas. Aliás, acrescenta João Barroso, os impactos já são claros na vinha, com a vindima a ser feita mais de um mês mais cedo do que era costume. “É um investimento, não é um custo. Tem benefícios económicos e sociais. Conheço propriedades que são autênticas Arcas de Noé de biodiversidade.”
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