Este mês está a ser um abril extraordinariamente quente – um dos mais quentes de sempre. E esta quinta-feira foi particularmente anómala. De acordo com a observação de superfície da rede de estações meteorológicas no site do IPMA, dezenas de locais, de norte a sul de Portugal Continental, ultrapassaram os 30º C. Para se ter uma ideia de quão extrema é esta situação, diga-se que o valor médio da temperatura máxima do ar em abril é de 18,18º C.
O recorde de temperatura no País para este mês terá mesmo sido igualado. Às 16h, os termómetros na Amareleja, distrito de Beja, marcavam 36º C. Estas temperaturas, no entanto, só serão oficializadas após validação pelos climatologistas do IPMA, para o boletim climatológico de abril, que deverá sair no início de maio.
O recorde absoluto de temperatura máxima para abril foi estabelecido há quase oito décadas, a 20 de abril de 1945, quando a estação do Pinhão, no distrito de Vila Real, chegou aos mesmos 36º C que hoje se fizeram sentir na Amareleja (os registos fiáveis de temperaturas começaram em 1931). A temperatura máxima absoluta em Portugal é de 47,3º C, registada a 1 de agosto de 2003, também na Amareleja.
Às 16h desta quinta-feira, cinco estações meteorológicas encontravam-se acima dos 35º C, além da Amareleja. Mora (35,6º C), Castro Verde (35,3º C), Portel (35,2º C) e Viana do Alentejo (35,1º C). Em Coruche, os termómetros atingiram os 35º C exatos. Uma hora depois, Portel chegou aos 35,7º C. No total, 37 estações registaram temperaturas acima dos 30º C, incluindo quatro no Norte (Pinhão, Mirandela, Miranda do Corvo e Vila Real). Lisboa atingiu os 33,5º C e o Porto, 26,1º C.
Neste momento, o País estará a passar por uma onda de calor (que se define, tecnicamente, por pelo menos seis dias com temperaturas máxima diárias superiores em 5ºC à média para o período entre 1971 e 2000). Será a segunda este mês. Entre os dias 2 e 11, metade das estações meteorológicas encontraram-se em situação de onda de calor, segundo o boletim intercalar de acompanhamento da seca, do IPMA, publicado no dia 21.
Esse boletim dizia já que a temperatura máxima do ar na primeira metade do mês esteve “quase sempre acima do valor médio mensal”. Os níveis de precipitação, por seu lado, foram “muito inferiores ao normal em todo o território”. Na região Sul, não choveu de todo. A meio de abril, 78,2% do território continental encontrava-se em situação de seca, sendo que 18,6% era de seca severa e 10,1% de seca extrema. É uma situação preocupante, atendendo a que os próximos cinco meses são os mais secos do ano (e o próprio abril, ao contrário do que dá a entender o ditado das “águas mil”, é estatisticamente o sétimo mais seco).
O calor que se tem feito sentir este mês pode ser só uma amostra do que vem aí. Depois de um período de múltiplas La Niñas, um fenómeno meteorológico no Pacífico que tende a baixar as temperaturas globais, prevê-se o regresso, para daqui a uns meses, do El Niño, o contraponto da La Niña.