Por serem descartáveis, as cápsulas de café têm a reputação de serem prejudiciais para o ambiente. E é verdade que a produção de resíduos é um problema grave associado às cápsulas. Mas, no que diz respeito ao seu impacto no clima, através das emissões de dióxido de carbono, podem ser a opção mais ecológica, quando comparado com outros meios de preparação de café. E a razão é sobretudo uma: o desperdício de café.
Uma equipa de investigadores do departamento de ciências da Universidade do Québec, no Canadá, liderada pelo professor brasileiro Luciano Rodrigues Viana realizou uma análise sobre o impacto climático da pegada de carbono de quatro modos utilizados na preparação de café: prensa francesa, filtro, solúvel e cápsula. Os investigadores chegaram à conclusão de que, por norma, as cápsulas são mais benéficas para o planeta, pelo menos quando falamos de alterações climáticas.
Nos últimos anos, as cápsulas (inventadas nos anos 80) ganharam uma popularidade significativa, e são já uma parte significativa do mercado, estimado em dois mil milhões de chávenas. De 2021 para 2022, o valor de mercado das cápsulas de café cresceu 24%. Apesar da popularidade, as cápsulas individuais descartáveis dividem as opiniões dos consumidores de café, devido à perceção do seu impacto ambiental. Uma perceção que pode estar errada.
Atrás de uma chávena de café, há um processo composto por várias etapas, desde a produção agrícola dos grãos, o seu transporte, a torrefação e a moagem. Estas etapas, comuns a todos os modos de preparação de café, consomem recursos, emitindo gases de efeito de estufa (GEE). Para comparar adequadamente, a pegada de carbono de várias formas de preparação de café, os investigadores consideraram vários aspetos, desde a produção, passando pelo fabrico de embalagens e máquinas, até à preparação do café e aos resíduos que produz. Os cientistas destacam a fase da produção de café como a que mais emite GEE, contribuindo entre 40% e 80% para a emissão total. O processo associado à produção emite mais gases do que o fabrico e a reciclagem ou mesmo aterro das cápsulas, após a sua utilização.
No decorrer da investigação, os cientistas mediram as emissões totais de GEE, considerando 280 mililitros de café produzido de várias formas. Os investigadores chegaram à conclusão de que o café filtrado produz a maior quantidade de dióxido de carbono (CO2, porque a quantidade de café moído necessária para uma chávena é maior, assim como a energia para aquecer a água, de forma a manter o café quente.
Em média, o método que produz a segunda maior emissão de dióxido de carbono é o café coado na prensa francesa, devido à quantidade de café necessária para encher uma única chávena.
Associado a um menor consumo de energia elétrica (as chaleiras são muito eficientes) e pela ausência de resíduos orgânicos, o café solúvel parece ser a opção mais ecológica, partindo do princípio que os consumidores usam quantidades corretas de água e café. Porém, os investigadores concluíram que os consumidores utilizam mais 20% de café do que seria necessário, e também aquecem o dobro da água.
Os cientistas contrariam esta alternativa, aconselhando os consumidores a optarem pelas cápsulas, uma vez que permitem, simultaneamente, que haja uma otimização da quantidade de café e água, na hora da preparação.
De acordo com o estudo, as cápsulas são um método mais eficaz porque a quantidade de café existente de cada cápsula é controlada, evitando o consumo excessivo.
As cápsulas também provaram ser mais eficazes face ao café de filtro. Em comparação com o café de filtro, beber um café em cápsula, que tem cerca de 280 ml, economiza entre 11 e 13 gramas de café. A produção de 11 gramas de café arábico brasileiro emite cerca de 59 gramas de CO2, um valor muito superior às 27 gramas de CO2 emitidos para a produção de cápsulas.
Estes valores mostram o peso que o desperdício no setor alimentar tem na emissão de dióxido de carbono. Contra o senso comum, a forma mais eficaz de minimizar os efeitos do café no clima é recorrer às cápsulas, diz Luciano Rodrigues Viana: “As cápsulas de café evitam o uso excessivo de café e água. Evitar o desperdício de café e água é a forma mais eficaz de reduzir a pegada de carbono dos cafés tradicionais, coados e solúveis.”
A equipa, no entanto, adverte também para a importância da reciclagem: “Os consumidores devem estar cientes das opções de reciclagem de cápsulas na cidade onde residem, para evitar que elas sejam enviadas para um aterro sanitário, em vez de uma instalação de reciclagem. E devem mudar para cápsulas reutilizáveis”. Tem havido algumas propostas de redução do impacto ambiental nesta área, como cápsulas feitas com materiais alternativos ao plástico ou ao alumínio, que as tornem compostáveis.
Estes resultados são surpreendentes para muita gente, mas não são uma novidade absoluta. Já outros estudos apresentaram resultados idênticos. Já em 2009, um estudo publicado na Journal of Cleaner Production concluía que o café de filtro é a pior opção para o ambiente (embora, nesta análise, o café solúvel tenha tido melhores resultados do que o de cápsula). Em 2018, outro estudo, publicado na Journal of Industrial Ecology, dizia também que as “soluções mais convenientes” para os consumidores – as cápsulas – não têm necessariamente mais impactos para o ambiente. “Podem efetivamente ter menos” impactos, lê-se nas conclusões dessa análise.