Confesso que com o frio dos últimos dias, a vontade de ir regar a horta é quase nula. Mas como não chove há imenso tempo, nem o orvalho chega para humedecer a terra.
Vai daí, hoje, logo de manhãzinha, enchi-me de espírito hortelão e caminhei até ao parque hortícola, de luvas, cachecol, gorro e auscultadores a debitar música energética para me estimular naquela tarefa. Nem calcei as galochas, porque ia apenas deitar água sobre as plantas.
Arrependi-me depressa. Regar uma horta de 80 metros quadrados sozinha é uma tarefa inglória. A mangueira enrola-se, cai por cima do que está plantado, atinge as hortas vizinhas, a água “empena”, há que voltar à torneira para pô-la como deve ser, tudo em redor fica enlameado…
Saí de lá com os ténis cobertos de lama, com as calças manchadas de lama, com as luvas cheias de lama, com o fio dos auscultadores sujo de lama. Se não fossem as alfaces, a rúcula e os coentros que colhi e levei para casa, teria começado mesmo mal o meu dia. Há prazeres que não se explicam, de facto.