É em agosto que começam a aparecer as primeiras aves: cegonhas, águias, abutres, gaviões, falcões andam pelo ares algarvios até ao final de Novembro. O fenómeno mais relevante é a migração pós-nupcial, que pode ser observada nos céus de Sagres por serem um corredor migratório onde passam dezenas de espécies.
A quarta edição do Festival de Observação de Aves de Sagres tem dezenas de atividades planeadas na área ornitológica como saídas de campo e mini-cursos mas, também, sobre astronomia, cogumelos, borboletas noturnas, tubarões. Será ainda possível observar golfinhos ou dar passeios a cavalo ou em burros de carga.
Para os participantes no evento há preços especiais em alojamentos, restaurantes e empresas de animação turística. As inscrições nas atividades devem ser feitas previamente num formulário, disponível no site oficial, ou pelos telefones 918 468 233 ou 910 547 861 – de outra maneira não há garantia de lugares.
TUDO SOBRE O FESTIVAL AQUI: http://birdwatchingsagres.com/
SAIBA MAIS SOBRE AS AVES QUE PASSAM EM SAGRES:
A península de Sagres e a sua importância para as aves planadoras*
Ornitologicamente, o fenómeno mais relevante da península de Sagres é a migração pós-nupcial. Devido à sua localização geográfica, a área regista uma elevada abundância e diversidade de aves migradoras, de agosto a novembro, principalmente planadoras e passeriformes, que deixam os seus territórios de nidificação europeus a caminho de áreas de invernada na África subsariana. As linhas de costa e vales adjacentes encaminham-nas para a península de Sagres, onde se congregam, podendo utilizá-la como ponto de paragem. Daqui podem seguir para Este ao longo da costa sul, presumivelmente até Gibraltar, ou tentar a travessia de cerca de 400 kms de mar, até ao continente africano. Constitui também uma importante zona de passagem de aves marinhas em trânsito entre o Atlântico e Mediterrâneo.
As aves planadoras que aparecem em Sagres são sobretudo aves juvenis ou imaturas que podem formar bandos de dezenas ou mesmo centenas de indivíduos, por vezes de várias espécies, circulando nas correntes térmicas ascendentes. Muitas das aves que aqui ocorrem poderão igualmente estar a efetuar movimentos dispersivos. As espécies presentes em maior número são o Grifo (Gyps fulvus), a águia-calçada (Aquila pennata), a águia cobreira (Circaetus gallicus), e a águia-de-asa-redonda (Buteo-buteo). Seguem-se o búteo-vespeiro (Pernis apivorus), o milhafre-preto (Milvus migrans), o gavião (Accipiter nisus), o britango (Neophron percnopterus), e a cegonha-preta (Ciconia nigra). É também regular a ocorrência de algumas aves de rapina menos comuns como o Grifo-pedrês (Gyps rueppellii), a águia-imperial (Aquila adalberti), ou o falcão-da-raínha (Falco eleonorae). Já foram registadas raridades como o tartaranhão-pálido (Circus macrouros), ou o falcão-de-pés-vermelhos (Falco verpertinus).
As aves de Sagres**
Integrado no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, Sagres alberga espécies únicas na região e é palco de um fenómeno natural que neste sítio assume particular relevância: a migração outonal de aves planadoras.
De agosto a novembro, esta zona torna-se no principal corredor migratório do país para cegonhas, águias, abutres, gaviões, falcões, etc., sendo possível observar praticamente todas as espécies de aves planadoras que ocorrem em Portugal, bem como algumas raridades. Algumas das que mais interesse despertam nos aficionados das espécies raras, são a águia-real (Aquila chrysaetus), a águia-imperial (Aquila adalbertii), o abutre-negro (Aegypius monachus) e o falcão-da-rainha (Falco eleonorae). Entre as espécies mais abundantes, destaque para a águia-calçada (Aquila pennata), a águia-cobreira (Circaetus gallicus), o gavião (Accipiter nisus), a águia-d’asa-redonda (Buteo buteo) e o grifo (Gyps fulvus). Em menor número mas com passagem regular, destaque para a cegonha-preta (Ciconia nigra), o abutre-do-egito (Neophron percnopterus), o falcão-abelheiro (Pernis apivorus), o milhafre-preto (Milvus migrans), o tartaranhão-caçador (Circus pygargus) e o tartaranhão-azulado (Circus cyaneus). Ao nível das corujas também é possível observar migradores em passagem, como o bufo-pequeno (Asio otus) e o mocho-pequeno-de-orelhas (Otus scops).
Sagres é um local igualmente interessante para observar outros grupos de aves, nomeadamente marinhas, estepárias, passeriformes, entre outras. Nas aves marinhas, refira-se a passagem de milhares de gansos-patola (Morus bassanus) e de centenas de pardelas-de-bico-amarelo (Calonectris diomedea) e pardelas-baleares (Puffinus mauretanicus). É ainda frequente a observação de moleiro-grande (Stercorarius skua).
Quanto às estepárias, a importância de Sagres justifica-se por ainda se manterem aí ativos muitos campos cerealíferos, pousios e pastagens para gado. Destaque para o sisão (Tetrax tetrax), para a petinha-dos-campos (Anthus campestris) ou para o alcaravão (Burhinus oedicnemus). Nos matos circundantes ocorrem diversas felosas, com particular importância para a felosa-do-mato (Sylvia undata) e a felosa-tomilheira (Sylvia conspicillata).
Por fim, uma referência a espécies que todos os anos são observadas com relativa facilidade na zona de Sagres, nos matagais e bosques em torno da vila: Torcicolo (Jynx torquilla), felosa-de-bonelli (Phylloscopus bonelli), papa-figos (Oriolus oriolus) e sombria (Emberiza hortulana).
Uma ave que não é migradora mas que merece lugar de destaque é a gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax). Esta espécie extinguiu-se localmente em vários pontos do país mas resiste ainda em Sagres, sendo facilmente observada junto ao Cabo de São Vicente. Nesta região continuam a manter-se boas condições ecológicas para este corvídeo mas a tendência não deixa de ser de regressão.
Os textos assinalados com * e ** são da autoria da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, coorganizadora do Festival.