O mundo atingiu o Objetivo de Desenvolvimento do Milénio com a redução para metade da proporção de pessoas sem acesso a água potável, mas ainda está longe de atingir a meta do saneamento, revela hoje um relatório das Nações Unidas.
“Alcançámos uma meta importante, mas não podemos ficar-nos por aqui”, disse o Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao frisar que a Assembleia-geral das Nações Unidas reconheceu a água potável e o saneamento como direitos humanos, o que significa que é preciso “assegurar que todas as pessoas tenham acesso aos mesmos”.
Promovido pela agência das Nações Unidas para a infância (UNICEF) e Organização Mundial da Saúde (OMS) e lançado simultaneamente em Genebra e Nova Iorque, o relatório do Programa de Monitorização Conjunta para o Abastecimento de Água e o Saneamento evidencia que entre 1990 e 2010, mais de dois mil milhões de pessoas passaram a ter acesso a fontes de água melhoradas, tais como abastecimento canalizado e poços protegidos.
No final de 2010, 89% da população mundial, ou 6,1 mil milhões de pessoas, usaram fontes melhoradas de água potável, acima da meta dos 88 por cento traçados pelo Objetivo de Desenvolvimento do Milénio (ODM), e estima-se que até 2015, 92% da população global terá acesso a água potável melhorada.
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Um gesto que hoje é quotidiano em 63% dos lares mundiais, número que dificilmente chegará aos 75% até 2015, a próxima etapa da ONU
A. X.
Não obstante, pelo menos 11% da população mundial, ou 783 milhões de pessoas, continuam a não ter acesso a água potável; 1,1 mil milhões de pessoas continuam a fazer as suas necessidades a céu aberto; e quase quatro mil crianças morrem por dia por doenças diarreicas associadas à falta de qualidade da água, refere o relatório.
“Os números são ainda chocantes,” comentou o diretor executivo da UNICEF, Anthony Lake, “mas os progressos hoje anunciados demonstram que as metas dos ODM podem ser alcançadas – com vontade, esforço e fundos”.
Mas não até 2015
O relatório realça, porém, que o mundo está ainda longe de poder alcançar a meta ODM para o saneamento, e é improvável que venha a consegui-lo até 2015.
Apenas 63% da população mundial tem acesso a saneamento melhorado, um número que se estima poder chegar aos 67 por cento até 2015, mas muito abaixo dos 75 por cento almejados pelos ODM. Na prática, 2,5 mil milhões de pessoas continuam sem acesso a saneamento melhorado.
“Melhor água, saneamento e higiene são cruciais para promover a saúde humana e o desenvolvimento,” afirmou a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, ao salientar que, apesar dos “progressos animadores, quase dez por cento de todas as doenças continuam ligadas à fraca qualidade da água, do saneamento e da higiene”.
África subsariana é a zona mais crítica
O relatório sublinha, por outro lado, as enormes disparidades entre regiões e países, e no seio de vários países.
Apenas 61% das pessoas na África subsariana têm acesso a fontes melhoradas de abastecimento de água comparativamente aos 90 por cento ou mais na América Latina e Caraíbas, Norte de África, e grandes áreas na Ásia. E mais de 40 por cento de todas as pessoas que carecem de água potável à escala global, vivem na África subsariana.
O relatório aponta também as fragilidades das áreas rurais, evidenciando que nos países menos desenvolvidos, 97 em cada 100 pessoas não têm água canalizada e 14 por cento da população bebe água de superfície, a partir de rios, lagoas ou lagos.