No século XVII, o Papa Urbano VIII ameaçava com excomunhão quem cortasse árvores no Buçaco. A medida espelha a importância que já então tinha o bosque, cedido em 1626 aos carmelitas descalços pelo bispo de Coimbra. Hoje, conta mais de 250 espécies vegetais diferentes.
O que se passou para que espécies protegidas (como azevinhos e sobreiros) e outras raras (como medronheiros e gilbardeiros) fossem cortados? Jorge Franco, presidente da Fundação Mata do Buçaco (criada em março de 2009, para gerir de forma integrada o património natural e edificado), não consegue explicar. “Demos sequência a um Plano de Ordenamento e Gestão da Mata (elaborado por técnicos da Universidade de Aveiro, a pedido da Fundação) que previa o corte de 107 pinheiros secos e infestantes como acácias…”
A VISÃO visitou o local, com Domingos Patacho, da Quercus, e comprovou que o abate excedeu em muito o previsto. “É o chamado abate destrutivo. As marcas de rodas gigantes comprovam a entrada de maquinaria pesada”, nota o engenheiro florestal, ante a grande clareira aberta ao lado da Porta do Serpa. O trabalho, considera, não poderia ter sido entregue a um madeireiro. “Isto é uma mata, não um pinhal. O corte deveria ser feito por homens com motosserra e os troncos extraídos com um cabo de aço.”
Em vez de desmontadas, as árvores (algumas de grande porte) foram cortadas pela raiz, destruindo, na queda, outras cujo corte não estava previsto. Vê-se um Cedro-do-Buçaco totalmente mutilado, Cedros-do-Atlas estropiados, azevinhos cortados pela raiz e ramos soltos espalhados entre a vegetação cortada. Perto do Cruzeiro do Conde da Graciosa, de 1861, também ele danificado pelas máquinas, há uma nova clareira, um sobreiro e um carvalho cortados pela raiz.
As clareiras, explica Patacho, favorecem as invasoras. “As acácias pequeninas, apanhando muito sol, crescem mais e vão fazer sombra às plantas autóctones, impedindo o seu desenvolvimento.” Jorge Franco garante que o engenheiro florestal da fundação acompanhou os trabalhos. Não terá sido suficiente…
O DADO
105 Hectares que a Mata Nacional do Buçaco ocupa