As formas arredondadas ainda mais do que o típico design nipónico e a cor azul-brilhante tornam o Nissan Leaf um carro diferente, logo ao primeiro olhar. Quando entramos neste citadino que chegará ao mercado português já em janeiro de 2010, deparamo-nos com um painel de instrumentos bastante iluminado, semelhante ao dos veículos híbridos. No lugar das mudanças está um pequeno botão, redondo, ainda mais simples do que o habitual dispositivo que permite controlar as mudanças automáticas, com apenas duas posições: para a frente e marcha-atrás. Mas só quando ligamos o carro notamos que vamos conduzir um veículo verdadeiramente diferente. Dedo indicador no botão de ignição e… nada. Só percebemos que está pronto para andar porque se acende uma luz verde à nossa frente, por detrás do volante. Ruído? Zero! E isso é estranho e uma mudança radical na forma de conduzir e de conviver com o trânsito. Atravessar estradas passa a ser uma aventura 100% visual e muito mais arriscada. Os carros elétricos não avisam quando estão a chegar. E os ruídos simulados que deverão equipar quase todos os futuros elétricos até à velocidade de 30 km/hora, o Leaf emite um silvo, tentando imitar um motor comum a trabalhar não chegam para alertar os transeuntes.
Quando carros como o que testámos se tornarem maioritários nas estradas e, para isso, será apenas uma questão de tempo, a forma como circulamos nas cidades ou nas localidades com mais tráfego vai alterar-se radicalmente. Passear por uma das metrópoles mais movimentadas do globo poderá ser uma experiência tão pacata, do ponto de vista auditivo, como uma tranquila caminhada pelo campo.
Regressamos ao interior do Leaf. A condução deste elétrico é, à partida, muito semelhante à de um automático: depois de engrenada a marcha e desligado o travão de mão, basta pisar no acelerador para o veículo iniciar a marcha. Em andamento, sentimos a falta do ruído, da vibração do motor e dos pequenos solavancos das mudanças de caixa e vão três boas notícias de uma só assentada. E quanto ao poder de aceleração? Como os veículos elétricos não dispõem de mudanças, têm, a partir do primeiro momento, toda a potência disponível. Basta pisar no acelerador e… eis todos os cavalos à nossa disposição, com tudo o que isso envolve de bom e de arriscado, para quem nunca deitou as mãos ao volante de um carro destes. Uma vez que não sentimos o aumento de rotação e como o motor não faz barulho, nem temos de mudar de velocidade, só nos apercebemos de quão depressa viajamos ao olharmos para o velocímetro ou para a rapidez com que a paisagem desliza pelas janelas laterais.
UM LONGO CAMINHO
Ponderando os prós e os contras, os elétricos ainda têm um longo caminho a percorrer até se tornarem verdadeira alternativa aos veículos tradicionais. O seu preço é elevado (se descontarmos o subsídio do Governo), é reduzida a sua autonomia, usam uma bateria cara e de que ninguém sabe qual o prazo de duração e necessitam de muito tempo para serem “abastecidos”. Por outro lado, são mais amigos do ambiente (não emitem CO2 diretamente), possuem um motor com baixo custo de manutenção e reduzem drasticamente os gastos com combustível.
Mesmo com tantos contras, nenhum construtor de automóveis quer ficar fora desta corrida. As ofertas são já muitas e deverão chegar ao nosso país no decorrer dos próximos dois anos. Mas serão estes veículos suficientemente atrativos para criarem uma nova onda nesta indústria? Alguns estudos admitem que, até ao final de 2020, os carros elétricos representarão 5% do mercado automóvel mundial. E esta percentagem tenderá a crescer nos anos seguintes, sobretudo quando as baterias atingirem autonomias superiores aos 300 quilómetros.
Mas não será nos veículos de passageiros que residirá o grande filão deste mercado, pelo menos no início. Segundo um estudo recente, realizado pela consultora Frost & Sullivan, a substituição das frotas comerciais de pequenas carrinhas será o grande objetivo, pois os veículos elétricos poderão reduzir muito os custos de operação das empresas. A Frost & Sullivan sugere que este mercado terá ainda mais impacto na Europa, onde as companhias de distribuição e muitos dos serviços municipais poderão adquirir 165 mil carrinhas comerciais elétricas até 2016.
Cronologia: A era elétrica
O final deste ano e o início do próximo ficarão marcados pela entrada de Portugal na era da mobilidade elétrica. São quatro os novos carros movidos exclusivamente a eletricidade: Nissan Leaf, Mitsubishi MiEV, Peugeot iOn e Citroën C Zero. Estes três últimos serão produzidos pela Mitsubishi
OUTUBRO DE 2010
No dia 21, é apresentado à imprensa europeia o novo Leaf, da Nissan. O evento decorre em Portugal, no Museu da Eletricidade.
DEZEMBRO DE 2010
Lançamento do Mitsubishi MiEV, um veículo compacto de quatro lugares, com uma autonomia de 150 km e capaz de debitar uma potência de 49 kw, ou seja, cerca de 67 cavalos. O preço ainda não está fixado, mas deverá rondar os 29 mil euros, já com o apoio financeiro do Estado.
A rede Mobi.e contará com 320 postos de carregamento, espalhados por todo o País.
JANEIRO DE 2011
O Leaf, o elétrico da Nissan, chega ao mercado português, um dos primeiros países da Europa a comercializá-lo. Este modelo custa 35 250 euros, mas com o incentivo fiscal de 5 mil euros, ficará por 30 250 euros.
Chegam a Portugal também o Peugeot iOn e o Citroën C Zero. Estes veículos são idênticos ao Mitsubishi MiEV, mas o grupo francês PSA dotou-os de mais equipamentos, mais “adaptados” ao mercado europeu.
FEVEREIRO 2011
Arranque da construção, em Portugal, da fábrica de baterias para automóveis elétricos do Grupo Renault/Nissan
SETEMBRO/OUTUBRO 2011
Renault lança dois veículos em Portugal, o Fluence Z.E. e o Kangoo Z.E. O primeiro custará cerca de 27 mil euros, já com o incentivo do Estado, enquanto o preço do segundo rondará os 24,5 mil euros o modelo comercial não está abrangido pelo incentivo estatal. Os preços não contemplam as baterias. Estas serão adquiridas em leasing, com prestação mensal, de 79 euros, no caso do Fluence, e 72 euros, no do Kangoo.
NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
Lançamento do Opel Ampera, o primeiro veículo a usar a tecnologia de extensão de autonomia. Trata-se de um carro elétrico com uma autonomia de 60 km, mas que usa um motor convencional que produzirá energia elétrica para abastecer a bateria, permitindo–lhe circular mais 400 km.
A rede Mobi.e terá 1 350 postos de carregamento de viaturas elétricas
JANEIRO 2012
A Renault lança o terceiro veículo elétrico. Trata-se de um pequeno citadino de dois lugares que mais se assemelha a uma moto, apesar de ter quatro rodas.