O impacto das alterações climáticas na sociedade e na economia global já ultrapassou o plano das probabilidades e é hoje uma realidade inegável que está a impulsionar mudanças profundas nos hábitos de consumo e na forma como as empresas operam. Um estudo recente da BCG e do World Economic Forum revela que os desastres climáticos poderão reduzir o PIB global em até 22% até 2100 – um alerta para a urgência de acelerar a transição sustentável. Ainda assim, apesar das previsões preocupantes, a economia ‘verde’ já deverá ultrapassar os 14 biliões de dólares até 2030, consolidando-se como um motor de crescimento e uma oportunidade estratégica para as empresas aliarem desenvolvimento económico e compromisso ambiental.
Neste contexto, a transição para modelos sustentáveis não pode ser encarada como uma necessidade, mas sim como um imperativo competitivo. Na Europa, iniciativas como o Green Deal e o mais recente Clean Industrial Deal reforçam o compromisso com a descarbonização e a economia circular, pressionando as empresas a adaptarem-se a este novo paradigma. Apesar de visões opostas e pedidos para voltar atrás, a Europa tem procurado manter as metas e o caminho definidos, mesmo que isso implique atrasos de execução ou ajustes na carga administrativa. Nos Estados Unidos, a aplicação do Inflation Reduction Act (IRA) gerou uma onda de investimentos em tecnologias limpas, embora a recente instabilidade política tenha introduzido alguma incerteza sobre a continuidade desse impulso. Já a China, como maior produtor global, está a acelerar a transição verde, com forte aposta na eletrificação e na industrialização sustentável, reposicionando-se como líder na nova economia. Portugal, em particular, tem procurado acompanhar esta trajetória, apostando na transição energética e na inovação industrial. O país destaca-se na expansão das energias renováveis, sobretudo na produção de energia eólica e solar, sendo um dos líderes na incorporação de fontes limpas no seu mix energético.
A crescente preocupação dos consumidores com a sustentabilidade reforça a sua relevância no mercado. Um inquérito recente da BCG sobre hábitos e preferências dos portugueses revela que a maioria está disposta a pagar um valor acrescido por produtos mais sustentáveis, especialmente nos setores da energia (57%) e bens alimentares (56%). Contudo, ainda existe um desfasamento entre intenção e ação, visto que apenas um terço dos consumidores considera frequentemente o impacto ambiental nas suas decisões de compra. Para as empresas, esta realidade representa uma oportunidade estratégica: ao tornarem as soluções sustentáveis mais acessíveis e atrativas, podem diferenciar-se e consolidar a sua posição no mercado. Os negócios que liderarem esta transformação poderão garantir não só conformidade regulatória, mas também vantagens competitivas duradouras.
Além disso, num país de pequena dimensão como Portugal, a cooperação dentro e entre indústrias é determinante para ganhar escala e acelerar a transição para uma economia de baixo carbono e mais sustentável. A descarbonização não deve comprometer a competitividade empresarial, mas sim alicerçar-se na eficiência no uso de recursos, inovação tecnológica e em modelos de negócio inteligentes.
A aposta na economia circular apresenta-se como um caminho estratégico para Portugal reforçar o seu compromisso com a transição sustentável, reduzindo a dependência de matérias-primas importadas e virgens e aumentando a eficiência na utilização de recursos. Segundo um estudo recente da BCG, cerca de 200 mil milhões de dólares em materiais recicláveis são desperdiçados anualmente, representando uma oportunidade concreta para as empresas que integrem a circularidade nos seus modelos operacionais. Ao fazê-lo, não só podem reduzir custos e ganhar vantagens competitivas, como também reforçar a resiliência das suas cadeias de abastecimento face à crescente escassez de materiais e volatilidade global
Finalmente, a Inteligência Artificial (IA) surge ainda como um fator crítico nesta transformação. Desde a otimização das cadeias de abastecimento até a redução do desperdício de materiais, a IA pode impulsionar ganhos de eficiência e sustentabilidade. As tecnologias preditivas estão já a ser utilizadas para mitigar riscos climáticos e otimizar processos industriais, permitindo às empresas reduzir custos e melhorar o seu impacto ambiental. Na Europa, a digitalização das cadeias de valor e a adoção de plataformas tecnológicas para rastreamento de produtos e materiais têm permitido avanços significativos na implementação de estratégias de economia circular.
A urgência da transição para um modelo sustentável é incontestável. Os impactos ambientais continuarão a exigir ações decisivas, gerando uma procura crescente por soluções e novas ofertas, independentemente de eventuais flexibilizações nas metas ou objetivos. As empresas que assumirem a dianteira não só estarão preparadas para um contexto de maior regulação e exigência, como também colherão benefícios estratégicos e financeiros. A sustentabilidade deixou de ser uma tendência para se tornar um elemento central que redefine o futuro da sociedade, da economia e dos negócios, devendo ser encarada como uma vantagem competitiva e uma condição essencial para o sucesso a longo prazo. Na Europa, em Portugal e a nível global, a economia ‘verde’ afirmar-se-á cada vez mais como motor de crescimento e resiliência económica.