Xi Jinping avisou que não ia apressar a descarbonização, e está a cumprir. Segundo uma análise da Greenpeace, a China aprovou, nos primeiros três meses do ano, e através dos seus governos provinciais, a construção de novas centrais a carvão com uma capacidade total de 20,45 GW. Este valor é superior aos projetos aprovados durante todo o ano de 2019 (13,91 GW) e de 2021 (18,55 GW) e pouco menos de metade de 2020 (46,1 GW). Como termo de comparação, refira-se que a central termoelétrica de Sines tinha uma capacidade instalada de 1,3 GW, enquanto a do Pego era de 0,6 GW (ambas encerraram em 2021, pelo que Portugal já não queima carvão para produzir eletricidade).
Em 2022, foram aprovados na China 90,72 GW, o que à primeira vista poderia indicar uma desaceleração de novos investimentos em carvão este ano – se a proporção por trimestre se mantivesse, o total deste ano seria de pouco mais de 80 GW. Mas a tendência parece apontar para um aumento de aprovações nos trimestres seguintes. No ano passado, nos primeiros três meses, foram aprovados “apenas” 8,63 GW, menos de metade deste ano.
A China comprometeu-se a atingir a neutralidade carbónica até 2060, o que já de si é um dos compromissos menos ambiciosos de todos os países que assinaram o Acordo de Paris, em 2015. Apenas a Índia atira para mais tarde o compromisso de “net zero”, ao dar 2070 como meta. O compromisso de Pequim, no entanto, é só para o dióxido de carbono, deixando os outros gases de fora, como o metano (potencial de efeito de estufa 25 vezes superior ao CO2) e o óxido nitroso (300 vezes mais potente).
A meta para daqui a quase 40 anos é suficientemente longínqua para que seja impossível dizer, hoje, que a China está a faltar à promessa. Mas há outro compromisso em cima da mesa: Xi Jinping garantiu que o país atingiria o pico de emissões antes de 2030, objetivo que está muito próximo no tempo e parece cada vez mais difícil de cumprir, atendendo a que o aumento de emissões não dá mostras de abrandar. Só de 2016 para 2021, as emissões chinesas per capita subiram 15%, de 6,97 toneladas de CO2eq (dióxido de carbono equivalente) para 8,05 toneladas. Nas últimas duas décadas, de 2001 para 2021, o aumento foi de 175%.
É cada vez mais provável que a China não consiga chegar ao pico de emissões nos próximos sete anos, mas essa não é a prioridade de Xi Jinping. Depois de uma série de falhas de energia em 2021, que afetaram o setor industrial, o presidente deixou claro que não vai deixar os compromissos climáticos prejudicarem a economia chinesa. No seu discurso de abertura do Congresso do Partido Comunista Chinês, em outubro do ano passado, Xi garantiu que a segurança energética estava à frente de outras preocupação. “Trabalharemos de forma ativa e prudente em direção aos objetivos de atingir o pico de emissões de carbono e a neutralidade de carbono”, disse.
A China é, de longe, o país com maiores emissões totais de gases com efeito, representando quase um terço das emissões globais, seguida dos EUA, com 14%. E o facto de ter uma população de 1,4 mil milhões não explica tudo. As emissões per capita da China (8,05 toneladas) são já mais do dobro das de Portugal (3,96), apesar de ter um PIB per capita que corresponde a metade do nosso (12 556 dólares contra 24 567 dólares). Ou seja, a China, neste momento, polui o dobro de Portugal para produzir metade da riqueza – significa, portanto, que tem uma intensidade carbónica quatro vezes superior à nossa.
Os EUA, apesar de tudo, continuam a ter emissões per capita muito superiores às da China: 14,24 toneladas. Mas, ao contrário das chinesas, têm estado a descer. Em 2001, estavam nas 20,91 toneladas; em 2016, nas 15,76.
Por outro lado, a China argumenta que ainda tem uma grande “folga moral climática”: afinal, o Ocidente enriqueceu a queimar combustíveis fósseis ao longo de dois séculos, tendo de longe a maior parte da responsabilidade no aquecimento global, e o resto do mundo tem agora todo o direito de também crescer economicamente.