A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um aviso preocupante. Se não agirmos rapidamente para tentar reverter os efeitos da crise climática, estaremos a avançar para uma “catástrofe sanitária iminente”. Numa altura em que os diversos países recuperam da crise sanitária e económica provocada pela Covid-19, e na antevisão da COP26 – a Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas de 2021 -, a OMS divulga um relatório em que recomenda às nações que considerem políticas integradas de saúde e clima, pelo bem da saúde das populações.
“A pandemia da Covid-19 evidenciou a ligação íntima e delicada entre os humanos, os animais e o nosso ambiente”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “As escolhas insustentáveis que fazemos estão a matar o nosso planeta, e as pessoas.”
Tendo em conta o impacto deixado pela pandemia, e as cada vez mais dramáticas evidências das alterações climáticas que o Mundo tem enfrentado, o relatório diz que os próximos anos são uma “janela crucial” para reverter esta tendência. Cheias, incêndios, tempestades, secas extremas e outros desastres naturais têm-se tornado cada vez mais frequentes, uma consequência das alterações climáticas. Estes eventos estão a afetar a vida das pessoas, causando milhares de mortes e ameaçando os sistemas de saúde. Também a qualidade da nossa alimentação está a ser alterada devido ao aquecimento global, a que se somam outros problemas, como a escassez de água, a disseminação de doenças (como a malária) e o impacto negativo das alterações climáticas na saúde mental das pessoas.
Os governos dos diversos países devem assim, segundo a OMS, considerar nos seus planos de recuperação pós-pandemia a inclusão de políticas integradas de saúde e clima.
“As alterações climáticas são a maior ameaça sanitária que a Humanidade está a enfrentar. Enquanto ninguém está a salvo dos impactos das alterações climáticas, estes são desproporcionalmente sentidos mais intensamente pelos mais desfavorecidos e vulneráveis”, pode ler-se.
E os números falam por si: a poluição atmosférica, por exemplo, que resulta principalmente da utilização de combustíveis fósseis, causa 13 mortes por minuto em todo o mundo.
“Nunca foi tão claro como agora que a crise climática é uma das emergências sanitárias mais urgentes que enfrentamos”, afirma Maria Neira, diretora do ambiente, alterações climáticas e saúde da OMS. “Reduzir a poluição atmosférica aos níveis recomendados pela OMS, por exemplo, reduziria o número total de mortes devido à poluição atmosférica em 80%, ao mesmo tempo que reduziria dramaticamente a emissão de gases de estufa, que alimenta as alterações climáticas. Uma mudança para dietas mais nutritivas, à base de produtos vegetais, de acordo com as recomendações da OMS, como outro exemplo, poderia reduzir significativamente as emissões globais, assegurar sistemas alimentares mais resistentes e evitar até 5,1 milhões de mortes por ano relacionadas com a dieta alimentar até 2050.”
O relatório inclui uma lista de 10 recomendações, na qual se inclui a “construção de sistemas de saúde resilientes e amigos do ambiente”, a “promoção de sistemas de transporte e de design urbano sustentáveis, dando prioridade ao uso de transportes públicos, bicicletas ou caminhar”, e a “promoção de sistemas alimentares sustentáveis e resilientes”. O objetivo principal é promover uma recuperação da Covid-19 “verde” e sustentável.
As recomendações são “o resultado de amplas consultas com profissionais de saúde, organizações e intervenientes interessados em todo o mundo, e representam uma declaração de amplo consenso da comunidade global de saúde sobre as ações prioritárias que os governos devem tomar para enfrentar a crise climática, restaurar a biodiversidade, e proteger a saúde”, continua o relatório.
O relatório é acompanhado de uma carta aberta, assinada por 300 organizações da área da saúde, representando ao todo cerca de 45 milhões de profissionais de saúde.
“Apelamos aos líderes de todos os países e os seus representantes na COP26 para que evitem a iminente catástrofe sanitária, limitando o aquecimento global a 1,5 graus Celsius, e façam da saúde humana e da equidade o centro de todas as ações de mitigação e adaptação às alterações climáticas”, pode ler-se na carta.