Ainda o Império, ainda a descolonização, ainda a ponte aérea, ainda os retornados e ainda eu a falar de isto-tudo, quando isto-tudo se tornou tão diferente para mim por ter escrito um romance, O Retorno, e nele ter inventado outras memórias que agora existem tão ou mais em mim do que aquilo que vivi. A história do Rui, personagem principal do romance, está agora ao alcance de qualquer um, mas a minha continua secreta, pelo menos em parte, porque todas as vidas são secretas, muitas vezes, mesmo para quem as vive.
A estranha existência das memórias do Rui nos mesmos acontecimentos históricos e de forma tão mais partilhável do que as minhas tem vindo a sobrepor-se-me. Podia pensar que o Rui também sou eu ou que o Rui sou eu. É verdade uma coisa e outra e não é verdade nem uma coisa nem outra. Mas é indubitável que a minha memória também se constrói dos outros e com os outros, os outros dão-nos mais existência, dão mais existência ao que nos acontece. O que existe só em nós está quase sempre condenado ao esquecimento. Ou à ilusão.
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