Em linhas tortas lá fui descendo o mapa em direção a sul, até Cracóvia! A cidade onde as pessoas metem ketchup nas pizas e celebram o dia do nome ao invés do aniversário. Cidade pacata, cortada pelo Rio Vístula, coberta de inúmeros jardins que contrastam com o pequeno ambiente citadino. Através de um contacto que tinha neste local, o Filipe, fiquei com a possibilidade de passar três dias nesta cidade. Fui muito bem recebido, tanto pelo Filipe como pelos companheiros que com ele partilhavam a casa, um Italiano e um Polaco.
No segundo dia visitei a Catedral de Wawe e ouvi várias lendas – em especial a do Dragão de Wawel. A pouco e pouco fui-me apercebendo da forte presença da ideologia católica naquelas histórias. Talvez por ser a terra natal de João Paulo II ou pela grande quantidade de reis que aqui passaram ao longo dos tempos. É elevado o número de museus com objetos da igreja católica assim como de estátuas e torres com sinos.
Ingenuamente ou não, penso na quantidade de mistérios e segredos por desvendar a cerca destas grandes estruturas e peças, talvez um pouco influenciado pelos livros do Dan Brown. Tenho plena consciência que se trata de ficção, mas … Sempre fui bastante sonhador.
No terceiro dia subi a bordo de um balão de ar quente que me elevou a 180 metros de altura e permitiu uma vista deslumbrante sobre a cidade. Em terra onde às 16h00 é de noite, chega-se às 18h00 e o organismo já pede jantar. Fui a um restaurante, sim, ouviram bem, um restaurante! Aqui pude dar-me a esse luxo, visto que as refeições rodavam uma média de 2 euros e meio. Já sentado e de barriga cheia pedi a conta, quis pagar com cartão, mas não aceitavam. Perguntei onde era o multibanco mais próximo, ao qual oiço esta resposta:
– Não faz mal, pagas amanhã!
Para mim, é um exemplo da confiança que as pessoas depositam por quem ali passa.
Quase de mala às costas e a caminho da Áustria, converso com uma amiga na Internet que me manda umas imagens das Montanhas Tatra, de que nunca tinha ouvido falar. Eram imagens de cortar a respiração. Não me contive e disse-lhe:
– Ok, vou lá!
E assim mudei a minha rota, na mesma noite apanhei o primeiro comboio para Brno, na República Checa, que me dava ligação a Popra, na Eslováquia. Posso dizer que assim que o comboio parou após 11 horas de viagem, fiquei cá fora, especado cerca de 15 minutos, a admirar a beleza destas enormes montanhas! Segui caminho até a zona mais perto que consegui alcançar desta cordilheira e fiquei a pernoitar num hostel, a 8€ por noite. Os preços, idênticos aos da Polónia, permitiram-me ficar por ali três dias, num quarto com uma vista aberta para as montanhas. De chave na mão, apercebi-me que era o único hospede daquele edifício, a dona deixo-me nos meus aposentos e disse:
– Volto segunda-feira!
Pois é, fiquei totalmente sozinho com a chave da porta de entrada e outra do quarto.
Todos os dias fiz caminhadas. Três ou quatro horas pelas montanhas acima, pois todos os elevadores estavam fechados. Valeu cada passo, cada gota de suor, as paisagens eram lindas! A simpatia dos locais era imensa, gostavam de me ver por ali apenas a caminhar. A frustração de não poder subir mais alto também era grande – o crepúsculo e o frio batalhavam contra mim. Três dias de luta constante para tentar chegar o mais alto possível. Alcancei uns estonteantes 1200 metros de altura, que muito me custaram.
Senti-me concretizado para seguir caminho. Desta vez em direção ao Alpes, na Áustria.