Quando Alexandre, o Grande, conquistou Samarcanda (Maracanda para os gregos) em 329 a.C. terá afirmado: “Tudo o que ouvi sobre Maracanda é verdade, exceto que é mais bonita do que alguma vez imaginei”. Durante séculos, Samarcanda foi uma das principais cidades da Rota da Seda, um dos pontos nevrálgicos na encruzilhada entre a Pérsia, a Ásia Central e a Índia, mas em 1220 foi arrasada pelo exército de Genghis Khan e o seu futuro parecia irremediavelmente negro.
No entanto, a cidade estava destinada a ter uma segunda idade de ouro quando, em 1370, o turco Timur a fez capital do seu vasto império, que se estendia desde o leste da atual Turquia até à Índia. É no seu reinado, e dos seus descendentes, que se constrói a Samarcanda expoente máximo cultural e arquitetónico da Ásia Central, e da qual podemos ainda hoje apreciar algumas maravilhas (ainda que restauradas com alguma polémica pelos soviéticos nos anos 60 e 70), que nos mantiveram na cidade durante 3 dias.
As grandes atrações turísticas encontram-se bastante separadas entre si, sendo que a moderna cidade de traço soviético se mistura com os monumentos históricos, perdendo-se um pouco da espetacularidade em comparação com os centros históricos compactos de Bucara e Khiva. No entanto, cada uma destas atrações é por si só uma visita obrigatória e uma visão fabulosa na nossa “Rota da Seda”, assim como o era há centenas de anos.
O ponto central é um complexo de 3 enormes madraças ricamente decoradas (em estilo iraniano), chamado Registan, e que seria o centro comercial e cultural da Samarcanda medieval. A madraça mais antiga data de 1420 (mandada construir por Ulugbek, neto de Timur), sendo as outras algo semelhantes no estilo, mas todas com uma fachada impressionante. Hoje grande atração turística, e as madraças transformadas em centros comerciais, ao percorrer-se a praça perde-se um pouco a noção que se está a visitar um local histórico… Além do mais, nesta altura do ano irá ocorrer um festival de música e a praça está completamente ocupada por um enorme palco e bancadas! Para as fotos não é nada bom…
A madraça com o interior mais interessante é a mais “recente” (de 1660), chamada Tilla-Kari (“Coberta de Ouro”), onde se pode admirar uma mesquita com o interior revestido a… ouro! Além disso, pode ver-se uma exposição de fotografias de Samarcanda de há 100 anos e na qual se pode ter uma ideia da magnitude do restauro soviético, nalguns casos porventura exagerado, por exemplo acrescentando uma cúpula no Registan onde não existia!
Daqui seguimos para a mesquita Bibi-Khanym, a joia da coroa da cidade no tempo de Timur, impressionante pelo seu tamanho mas também pela sua beleza. Logo ao lado, a azáfama do Siob Bazar atrai as atenções de turistas e locais.
Mais a nordeste, encontra-se aquela que é, na nossa opinião, a visão mais bela de Samarcanda, o Shah-I-Zinda, uma avenida de mausoléus construída em volta de um túmulo mais antigo, pertencente a um primo de Maomé e um dos seus principais discípulos. O trabalho minucioso na decoração em azulejo dos túmulos é verdadeiramente impressionante, apesar de ter sido alvo de um restauro controverso em 2005, e o facto de ser ainda hoje um local alvo de reverência e peregrinação por parte da população acrescenta ainda mais valor a esta atração.
Partindo da nossa guesthouse (perto do Registan), desta vez para oeste, visitámos o mausoléu de Rukhobod, de 1380, que é provavelmente o monumento mais antigo da cidade e que tem uma arquitetura simples e atrativa. A seguir, o mausoléu que alberga o túmulo do próprio Timur apresenta-se imponente perante os visitantes. Lá dentro, o interior não fica nada a desejar ao exterior, numa sala que alberga também alguns filhos e netos de Timur, sendo que o lugar de honra é dado ao seu principal professor (suposto descendente direto de Maomé). Ao pôr-do-sol, estes monumentos adquirem uma beleza extra que, como sempre, nós tentamos captar!
Por último, regressamos à parte mais a noroeste da cidade para visitar o museu Afrosiab, sobre a ocupação mais antiga de Samarcanda, e o túmulo do profeta Daniel, cujas façanhas estão descritas no Antigo Testamento. Apesar da entrada no museu ser algo elevada (como em todas as atrações de Samarcanda!), a visita vale pelo extraordinário fresco (apenas descoberto em 1965) que cobre as 4 paredes de uma sala. Muito destruído, e apenas parcialmente restaurado, ainda assim é um postal excelente da antiga Rota da Seda, estando nele representado um rei local do século VII recebendo dignitários (incluindo um grupo de chineses!) acompanhados de cavalos, camelos e elefantes. O túmulo, por sua vez, foi uma desilusão pois estava fechado para restauro! Talvez para aumentar o sarcófago de Daniel, cujo corpo se diz aumentar alguns centímetros por ano… Mas de certeza para tornar este local em mais uma mina de dinheiro de turistas que o visitarão no futuro!
Nada mais nos restava do que regressar à nossa guesthouse, não deixando de passar por uma loja de comes e bebes, gerida por um senhor uzbeque que ficámos a saber que tinha trabalhado durante 7 anos nas vinhas do Douro na Régua e em Lamego! Parece que o mundo afinal é mesmo pequeno…