Bursa, a sul do mar da Mármara, foi a primeira capital do império otomano, mas além disso tem uma longa e rica história que vai desde os tempos de ocupação neolítica até aos romanos que exploraram as fontes termais, passando pelos séculos XV e XVI em que foi um centro do comércio da seda, chegando aos nossos dias como um dos principais centros industriais da Turquia, sendo a quarta maior cidade do país e tendo uma população a rondar os 2,5 milhões.
Não podíamos deixar escapar esta cidade, mas não tínhamos muito tempo, por isso resolvemos fazer uma breve incursão a partir de Istambul, usando para isso uma ligação de ferry e uma de autocarro. Apesar de a cidade ser bastante grande, o seu centro histórico é acessível a pé e visitar as suas principais atrações é uma tarefa concretizável num só dia.
Cidade sob domínio bizantino durante séculos, passou por diferentes mãos nos séculos XII a XIV, época de Cruzadas. Marcas desse passado podem ser encontrados em Tophane, a parte mais antiga de Bursa localizada numa colina dominada agora por uma torre de relógio e onde se podem encontrar o que resta das muralhas bizantinas originais e os túmulos dos fundadores da dinastia otomana: Osman Gazi, filho de um senhor da guerra tribal local, que iniciou o processo de expansão otomana, e seu filho, Orhan Gazi, que tomou Bursa em 1326 e a tornou a primeira capital do império, tomando para si o título de sultão e cunhando a sua própria moeda. As estruturas que se visitam hoje são reconstruções do século XIX após as originais terem sido destruídas num terramoto em 1855.
Descendo a colina e seguindo a Cemal Nadir Cadesi, encontramos a Grande Mesquita, Ulu Camii, mandada construir pelo sultão Beyazit I como promessa após a vitória sobre os Cruzados na batalha de Nicópolis. Erguida em 1396-99, distingue-se por um telhado com 20 pequenas cúpulas e um minarete impressionante. No seu interior, a fonte de abluções é enorme, com 3 andares, mas não estava a funcionar.
Nesta zona, podemos encontrar diferentes mercados, tais como o Bazar Coberto (onde compramos umas marionetas Karagoz, típicas desta cidade, com direito a show privado e tudo), e outros mercados, onde compramos um doce típico de castanhas. Nesta zona, destaca-se também o Koza Han, um edifício mandado construir por Beyazit II em 1491. Os Han serviam como caravançarais para os comerciantes que vinham à cidade, e este em particular distingue-se pela sua imponência e pela sua importância no negócio da seda. Ainda hoje é um local privilegiado para se fazer compras deste tecido.
Por esta altura o estômago já dava horas mas no Ramadão não é fácil encontrar um restaurante a servir almoço. Depois de alguma procura, lá conseguimos desfrutar de um kebab originário de Bursa, o Iskender Kebab, com carne em fatias finas, sobre pão e regadas com molho de manteiga e acompanhado de iogurte. Muito bom!
Um pouco mais à frente, seguindo a Attaturk Cadesi, visitamos a Mesquita Verde e o Túmulo Verde. Devem o seu nome à sua decoração exterior em azulejo verde, em grande parte atualmente desaparecido. O túmulo pertence ao sultão que mandou construir a mesquita adjacente, Mehmet I, que morreu em 1421. Estes monumentos foram os primeiros da dinastia otomana a usar extensivamente a azulejaria, estabelecendo um precedente para o futuro, sendo o seu interior belíssimo.
No início do século XV, com o império asiático consolidado, os otomanos dirigiram a sua atenção para ocidente. A Europa está separada da Ásia por apenas 1500 m de água no estreito de Dardanelos e Constantinopla era um alvo prioritário a abater. O avanço otomano era inevitável… Assim como o nosso percurso no dia seguinte! Estava na hora de regressar a Istambul e prepararmo-nos para mais um dia a explorar outra capital do império otomano.