Já tínhamos reparado que o nosso hostel de Bratislava era diversificado em pessoas. Até tínhamos visto (e comentado) que havia um número significativo de indivíduos mais velhos aqui hospedados. E também tínhamos notado a presença indiscreta da Margarita.
Só não esperávamos que esta senhora de meia-idade conseguisse falar (uma espécie de) português, durante uma noite inteira, depois de nos “assaltar” a cozinha-comum, enquanto preparávamos o nosso jantar, a más horas.
Natural da Argentina, Margarita já correu sozinha parte do mundo e encheu-nos a noite com as suas histórias, mostrando-nos que a arte de viajar não tem idade.
Está, atualmente, a realizar uma viagem pela Europa, que começou em Maio deste ano, sem pressas, nem destinos traçados. A primeira paragem foi Dusseldorf, na Alemanha – parece que sair da América do Sul não é fácil, nem barato, mas depois de estar na Europa “tudo é mais fácil”, revelou-nos. Correu a Alemanha, com muita chuva, queixou-se, e acabou por apanhar o comboio para Bratislava, cidade que a acolhe presentemente.
Surpreendida por nos ver cozinhar àquela hora, confessou-nos que é uma adepta dos hostels do mundo e revelou-nos que tem conhecido imensa gente entre quartos, casas e espaços partilhados. Depois de alguma conversa em inglês, descobriu que éramos portugueses e, automaticamente, o seu discurso mudou – os seus pais eram italianos, ela tinha dado aulas de italiano durante muitos anos e já tinha conhecido Portugal. A sua fala aportuguesada não era fluente (e muitas vezes trazia algumas incoerências) mas, com a nossa ajuda, podemos deixar o inglês de parte por umas largas horas.
Fascinada pelo nosso país de origem, perguntou-nos se conhecíamos um senhor português chamado Manuel Vieira, que tinha conhecido na Indonésia, e que lhe deu boas indicações sobre como visitar uma das ilhas do grupo, cujo nome é difícil de pronunciar. Pareceu-nos surpresa quando dissemos que não, explicando que, na prática, Portugal ainda é grande, e voltou a pronunciar o nome do senhor, insistindo.
Acabou por desvendar que foi na Ásia que realizou a sua primeira grande viagem, em países economicamente (muito) baratos e com “pequenos-almoços divinais à porta do quarto”. Da Europa, reclama exatamente do contrário – para além das trocas de moeda que se viu obrigada a fazer, que fizeram com que perdesse algum dinheiro, Margarita acha que tudo é muito caro e que há muita falta de informação sobre como conseguir as viagens e os alojamentos mais baratos. Ou isso, ou o facto de estar sozinha também não ajuda, confessou, acabando por nos considerar uns sortudos por estamos a viajar a dois. Nós concordamos.